Diálogo entre dois intelectuais!

- Caríssimo e ilustre amigo. Há quanto tempo não tenho o sublime privilégio de falar consigo!

- É verdade, os meus afazeres, o cumprimento dos meus deveres, têm, efetivamente, me afastado do centro da nossa belíssima e encantadora cidade.

- Pois, assim tinha notado. Mas, pessoas da nossa idade, não podem preocupar-se somente com aquilo que catalogamos como de “ as nossas responsabilidades”.

- Tem toda a razão. Não podemos desperdiçar certos momentos, de dar asas aos nossos pensamentos, e ao contrário desta ocasião, deixarmos de promover a nossa comunicação.

-Exatamente. E já que o destino nos fez encontrar, vamo-nos sentar neste antigo e requintado- se bem que restaurado – café, que, para nós, tem um significado profundo, recordando tempos da nossa juventude, quando ele, aliás, era conhecido como “ A esquina do mundo”.

- Aproveitemos, então, aquela mesa vaga ali ao fundo.

- Bom, mas não vamos falar em pandemia, porque coisas tristes que vimos, ouvimos e sentimos todos os dias, que nos cerceia a liberdade e, a bem dizer, quase nos rouba a vontade de viver, o melhor que fazemos é, pelo menos por instantes, esquecer.

- Estou de acordo consigo, meu prazeroso amigo.

- Falemos, porém, de algo que nos merece algum desdém, mas como implica, direta ou indiretamente, com a nossa vida, não podemos – como exigem os nossos sentimentos – fazê-las cair no esquecimento.

- Está a querer referir-se às próximas eleições em Portugal? Infelizmente é um dilema que nós os dois enfrentamos e que milhões de portugueses enfrentam por igual.

- Mas é pena, meu amigo, chegarmos a este estado de frustração, de desconfiança, de sensação de que vamos outra vez ser enganados, levados, explorados até à raiz, sempre que se aproxima um ato eleitoral no nosso País.

- Se levarmos em conta o triste conteúdo da maioria dos DEBATES tudo aponta para que a incompetência, a irresponsabilidade, a insensatez e a mediocridade tenham continuidade.

-Meu querido amigo, aprochegue-se um pouco mais que algo lhe quero dizer ao ouvido:

Eu, às vezes, sinto saudades do “tempo antigo”.

- Então não é que isso se passa também comigo!

-Naquele tempo também havia malabaristas, oportunistas, vigaristas, corruptos, incompetentes e gente a tudo fazer para se eternizar no PODER, havia – como toda a gente sabia – também ladrões, mas ao menos éramos poupados a este pesadelo das ELEIÇÕES.

- Pois, mas com o voto popular de certo modo quiseram, presumivelmente, legalizar, tornar possível fazer à vista, algumas coisas que outrora também se faziam, mas às escondidas.

- E sabe, o que me preocupa neste momento, é que estão a pensar em libertar para votar, milhares de enfermos que estão em isolamento.

- Pois, alguém que deve pensar, que sempre é melhor arriscar, umas centenas de contagiados, até, inclusive, com alguns mortos por arrasto, do que deixar de eleger um ou dois deputados.

- Que horror! Bom, ainda bem que por aqui não está ninguém. Quem nos escutasse era natural que pensasse, que estava perante um diálogo entre dois “velhos do Restelo”, mas a verdade é que vamos para casa com a alma aliviada, descarregada de alguns pesadelos!

- É verdade, meu distinto amigo. Foi um enorme prazer estar consigo.

- O prazer também foi meu. Que DEUS nos dê um 2022 melhor que o 2021 que pereceu.

Juvenal Pereira