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Viveram três terramotos mas não se lembram de tanta destruição em La Palma

Muitos dos habitantes do Sul de La Palma não conseguiram pregar olho, conscientes que seria, porventura, a última vez que pernoitavam em casa.
Muitos dos habitantes do Sul de La Palma não conseguiram pregar olho, conscientes que seria, porventura, a última vez que pernoitavam em casa., Foto: Abián San Gil Hernández / eldiário.es

Os habitantes mais antigos que vivenciaram eventos sísmicos e erupções vulcânicas na ilha de La Palma admitem que embora os terramotos do passado tenham sido mais intensos, nunca viram um muro de lava avançar, encosta abaixo, de forma tão avassaladora, reduzindo a cinza tudo o que encontra pela frente.

O jornal digital ‘el Diário’ relata a experiência de vida de dois anciãos, María Rosa e Florián, que vivem a poucos quilómetros da erupção de La Palma. A vizinha de El Paso conta que por três ocasiões viu o despertar de vulcões na ilha. Ao lado do marido e segurando uma pequena marmita de leite em frente à porta de sua casa, a mulher avistava, ao longe, a gigante língua incandescente que avançava na direcção ao mar, por volta da meia-noite.

Ontem, o casal de La Palma assumia ao jornal canariano que iria pernoitar na sua casa. Com um olho aberto e outro fechado, já que além de não terem para onde ir, sabem que têm de manter o alerta, pois a ordem de evacuação poderá chegar a qualquer momento. “Hoje vou dormir em casa, mas amanhã, não sei”, confessa.

María Rosa presenciou a erupção dos vulcões de San Juan (1949) e Teneguía (1971), ambos ambos na ilha de La Palma, mas não esconde que nunca sentiu tanto medo como agora: “Dizem que os anteriores eram maiores, mas este vai bravo contra todas as casas”.

A temperatura da superfície da lava emitida chega a 1.113 graus Celsius. Estima-se que os gases vulcânicos emitidos possam atingir os 3.000 metros de altitude. 

Na sequência deste processo eruptivo, as primeiras estimativas feitas sobre a emissão de dióxido de enxofre (SO2) na atmosfera dão conta de que se atingiram taxas de emissão entre as 6.000 e as 9.000 toneladas por dia. Gases que poderão chegar à ilha da Madeira a partir de amanhã, com a rotação do vento para o quadrante Norte.

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O vulcão Cumbre Vieja entrou em erupção no domingo e as autoridades prevêem retirar das zonas mais expostas entre 5.000 e 10.000 pessoas.

La Palma, com 85 mil habitantes, é uma das oito ilhas do arquipélago das Canárias e encontra-se a 460 quilómetros da ilha da Madeira.

Desde o início da erupção, no domingo, foi mantido um sinal de tremor vulcânico de grande amplitude que está registado em todas as estações sísmicas. 

O Cumbre Vieja é um dos complexos vulcânicos mais activos das ilhas Canárias, sendo o responsável por duas das três últimas erupções no arquipélago.

A anterior erupção em La Palma (1971), ocorreu no Sul da ilha, em Teneguía, e durou 24 dias.

Desde que há registos históricos - desde a conquista das Canárias no século XV - La Palma foi cenário de sete das 16 erupções vulcânicas registadas no arquipélago.

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