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Interpretemos à luz do seu contexto

Há certas coisas que não compreendo e, como estudante de património cultural, considero um insulto porque põe em causa tudo aquilo que estudo….

Quem somos nós para julgar a História, assim como, o passado se, ainda hoje, somos a espécie que mais atrocidades comete?

Há uma relação íntima entre o património e a memória das pessoas (disso não há dúvidas…) por isso, há grande necessidade de o proteger. Além disso, o património que vemos hoje não passa de um empréstimo do passado, daí a sua conservação ser essencial para conseguirmos perceber e interpretar a História. É claro que a História é complexa e serve-nos para contar o que ficou no passado.

Assim, como referi no início deste texto, há coisas que não compreendo... Como se pode equiparar vandalismo com ativismo, tal como o que aconteceu com o Padrão dos Descobrimentos, ou com a estátua do Padre António Vieira, por exemplo?

Existem sítios específicos para se fazerem críticas e/ou comentários, não achando correto o uso de uma lata de tinta, uma frase em inglês (ainda por cima com erros!!) num monumento nacional. As coisas não podem funcionar assim.

Temos de perceber uma coisa: No passado, os acontecimentos deram-se num espaço e tempo delimitados. As mentalidades dos séculos XV, e por aí fora, são completamente diferentes das mentalidades do século XXI… apesar de, não querendo ferir egos, que mentalidades são estas? E, como é óbvio, não podemos legitimar o mal e o bem do passado sem sequer tentar, no mínimo, compreender o seu contexto.

Por outro lado, se queremos ser ativistas, então eduquemos a sociedade. Ensinemos a história, de forma imparcial; exponhamos o nosso ponto de vista mas, sem nunca perder de vista a realidade e contexto dos factos. Por favor, sejamos realistas… interpretemos as coisas à luz do seu tempo.

Apelando (ou aplaudindo?) ao vandalismo do nosso património, na minha opinião, estamos a pôr em causa a nossa evolução tecnológica, política, social, ideológica… estamos a pôr em causa tudo aquilo que fomos e somos, e que somos uns seres miseres porque não somos capazes de entender a História no seu todo.

O património não é de ninguém… é de todos.

Desta forma, e sinto que estou a ser repetitiva, mas a necessidade é grande: É crucial educar!! A educação patrimonial é importante para o reconhecimento e respeito do passado…

Não podemos julgar o passado com ideologias do presente, e por isso questiono: Somos civilizados o suficiente para interiorizar e interpretar os factos nos seus contextos?