Análise

Vacina obrigatória e ‘soundbites’ dispensáveis

Estamos no momento certo para lançar o debate sobre a obrigatoriedade da vacina

1. Havia um ritual que ninguém descurava, umas semanas antes de se reiniciarem as aulas. A ida ao Centro de Saúde do Bom Jesus e ao Campo da Barca levar ‘as vacinas’. Aluno sem o boletim actualizado não era matriculado. Era dessa forma que as autoridades conseguiam controlar o processo que passou a evitar milhares de mortes, geradas por doenças para as quais já existia protecção. A obrigatoriedade em torno do processo vacinal é um tema que tem motivado muita discussão ao longo dos anos. A maioria, felizmente, é a favor. Foi graças às vacinas que foi erradicada uma patologia que dizimou milhões: a varíola. No sarampo, poupou igualmente milhões de vidas e fez baixar a mortalidade infantil, mas a resistência de alguns pais em inocular os seus filhos tem provocado novos surtos de uma doença extremamente contagiosa. A recusa de vacinar é altamente criticável porque a liberdade dos ‘antivax’ não pode colidir com a liberdade dos outros de quererem manter-se sãos. Atentando contra a saúde pública, são inexplicáveis e vazios de conteúdo cientifico os argumentos defendidos pelos que, permanentemente, vêem teorias da conspiração em tudo o que mexe. Estamos no momento certo para lançar o debate sobre a obrigatoriedade da vacina contra a covid-19. Há empresas que já o exigem aos seus colaboradores e países que a tornaram obrigatória para os profissionais de saúde, pessoas que trabalhem em lares e nas escolas. Faz algum sentido invocar a liberdade individual para recusar a vacina e exercer uma actividade profissional junto de pessoas vulneráveis? Nenhuma! A tendência natural e expectável é estender a obrigatoriedade a toda a população, mesmo sabendo-se que o processo está muito atrasado nos países subdesenvolvidos e que isso é um grande problema, que deve ser solidariamente resolvido pela comunidade internacional. Só assim conseguiremos um rápido regresso à normalidade.

2. Os partidos vão gastar um milhão de euros na campanha autárquica na Região. São os custos inerentes ao funcionamento da democracia e ainda bem que assim é. Entramos na época decisiva em que os eleitores começam a ter uma percepção mais vincada sobre em quem vai recair o voto, baseando essa escolha em múltiplos factores, mas essencialmente pelo projecto que cada um representa e preconiza para o futuro do seu município. Passados 45 anos da fundação da autonomia, é essencial que esta campanha seja profícua no debate de ideias, sustentado em bases sólidas e em promessas que possam ser depois cumpridas. A população quer ver os seus problemas resolvidos, conhecer soluções que mitiguem o declínio demográfico, usufruir de apoios que lhes permita dar uma educação de qualidade aos filhos e, porque não, ter mais filhos. O que não se consubstancia com um regresso ao passado, em que parecem querer derivar algumas candidaturas. Não faz qualquer sentido desenterrar o ‘machado de guerra’, apoucar adversários, utilizar linguagem bélica, profícua em ‘soundbites’ mas nada mais. O desvio para o tempo em que se insultavam chineses e ‘cubanos’, com ameaças de regresso ao ponto de origem, já não encaixa no léxico político actual. Como não é tolerável que recandidatos ao cargo usem meios públicos para campanha eleitoral. Sejam parcimoniosos. O momento é propício a alguns excessos mas que o bom senso prevaleça a bem da democracia.