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Falta de tempo põe em causa retirada de pessoas em risco no Afeganistão

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O Governo dos Países Baixos anunciou hoje que tem uma "forte certeza" de que não será capaz de retirar do Afeganistão todas as pessoas em risco de retaliação pelos talibãs por falta de tempo.

Em declarações à imprensa, a ministra em funções dos Negócios Estrangeiros holandês, Sigrid Kaag, destacou que há "uma forte certeza" de que a falta de tempo e o caos em torno do aeroporto impedirão a retirada do Afeganistão de todas as pessoas afectadas pelo avanço dos talibãs.

A ministra alertou que a lista de pessoas que se inscreveram para serem retiradas do Afeganistão continua a crescer.

Sigrid Kaag também reconheceu que havia muito mais cidadãos holandeses no Afeganistão do que era conhecido pelas autoridades, apesar de as "viagens terem sido estritamente desencorajadas durante anos" para aquele país.

A ministra da Defesa holandesa, Ank Bijleveld, reconheceu que há dúvidas se mais pessoas poderão ser retiradas de Cabul após a próxima sexta-feira, o que significa que a operação de retirada deverá estar encerrada antes do prazo estipulado por Washington.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, insistiu na terça-feira que a saída dos militares norte-americanos de Cabul será no dia 31 de Agosto, impondo essa data como prazo para que os seus soldados mantenham o controlo do aeroporto, o que dificultará a continuidade da retirada de diferentes países de afegãos e estrangeiros.

Kaag destacou que o Governo holandês, junto com os aliados da NATO, está a fazer todo o possível "contra o relógio" para acelerar as retiradas e trazer o maior número de pessoas para o aeroporto de Cabul porque "cada indivíduo que salvamos, é uma pessoa a mais que protegemos".

Os Países Baixos retiraram até agora 1.200 pessoas do Afeganistão num total de 21 voos.

"Também conseguimos levar muitas pessoas de autocarro ao aeroporto, mas com muitos problemas", disse a ministra.

O Governo holandês também informou o Parlamento que os soldados das forças especiais holandesas estão a recolher pessoas que precisam ser retiradas de Cabul e transferindo-as para o aeroporto "numa corrida contra o tempo".

Até agora, havia sido relatado que os militares estavam apenas dentro do aeroporto.

Cerca de 90 soldados holandeses estão na capital afegã, para onde viajaram na semana passada, para apoiar uma equipa consular liderada pela embaixada que coordena as retiradas dos holandeses e afegãos que trabalharam de alguma forma para os Países Baixos, incluindo motoristas, cozinheiros ou jornalistas locais.

O Parlamento foi quem exigiu do executivo que incluísse todos os afegãos que colaboraram com os Países Baixos e não apenas os intérpretes.

Houve ainda fortes críticas à lentidão da retirada e à saída de funcionários holandeses da embaixada em Cabul, que deixaram o local sem avisar os funcionários afegãos da missão diplomática.

Ambas as ministras lamentaram o protesto ocorrido na terça-feira em frente ao campo de Harskamp, uma vila na província de Gelderland, contra a chegada de refugiados afegãos.

"É terrível. Essas pessoas deveriam assistir televisão algum dia para ver o que está a acontecer em outras partes do mundo", acrescentou Bijleveld.