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ONU alerta para risco do Afeganistão se tornar "porto seguro" do terrorismo

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Foto EPA

Responsáveis da Organização das Nações Unidos (ONU) e representantes dos Estados-membros com assento no Conselho de Segurança destacaram o risco de Afeganistão se tornar um "porto seguro" para o terrorismo e pediram ações conjuntas da comunidade internacional.

Os apelos foram feitos, esta quinta-feira, numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova Iorque, sobre atividades terroristas e começaram pela declaração do secretário-geral adjunto da ONU e chefe do Escritório para o Contraterrorismo, Vladimir Voronkov.

"Temos de assegurar que Afeganistão não é usado, nunca mais, como rampa de lançamento para o terrorismo global" disse Vladimir Voronkov, depois de repetir um apelo feito pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, na segunda-feira.

"Gostava de ecoar o apelo do secretário-geral ao Conselho de Segurança esta semana para usar todos os instrumentos à disposição para prevenir que Afeganistão seja usado como plataforma ou porto seguro para o terrorismo", declarou Voronkov, alertando para as implicações e consequências de "longo alcance" da situação no Afeganistão para a segurança no mundo.

Michele Coninsx, diretora executiva do Comité Executivo para o Contraterrorismo e secretária-geral assistente, fez os mesmos apelos, sublinhando a situação frágil das meninas e mulheres no Afeganistão e abusos contra direitos humanos como violência e desaparecimentos forçados.

A responsável do Comité Executivo para o Contraterrorismo declarou que uma "abordagem única, compreensiva e coordenada da ONU é crucial para desenvolver e implementar medidas de contraterrorismo" a nível internacional.

Davood Moradian, político afegão que foi responsável de programas presidenciais para o Presidente do Afeganistão entre 2011 e 2014 Hamid Karzai, destacou, na reunião, que o país está numa situação de "catástrofe e crise humanitária".

Antigo conselheiro do Ministério de Negócios Estrangeiros do Afeganistão, Davood Moradian exortou a ONU a declarar "crise humanitária urgente" no Afeganistão e deliberar no sentido de declarar a capital, Cabul, como uma zona de segurança e protegida por uma missão de paz da ONU.

Atualmente, a ONU tem uma missão política no Afeganistão, a UNAMA.

No entanto, para Moradian, a reunião do Conselho de Segurança sobre o grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI) é uma prova de que "o mundo falhou em lidar com o terrorismo", 20 anos após o nascimento da "luta coletiva" depois do 11 de Setembro e acusou alguns Estados-membros da ONU, sem especificar nomes, de apoiar grupos terroristas.

"O Daesh [acrónimo árabe também utilizado para referenciar o EI] não teria sobrevivido e florescido se não fosse pelo apoio que recebeu de alguns Estados-membros", declarou o fundador do Instituto Afegão para Estudos Estratégicos (AISS, na sigla em inglês), acrescentando desilusão pelo sistema da ONU que "protege" aqueles países.

A reunião do Conselho de Segurança da ONU foi presidida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, Subrahmanyam Jaishankar.

Numa declaração de imprensa em nome do Conselho de Segurança, Jaishankar condenou todas as formas de terrorismo e sublinhou a importância de uma "visão holística" em que todos os Estados-membros da ONU participem com "parcerias inovadoras" e "cumpram obrigações" de criminalizar o financiamento do terrorismo.

A representante permanente dos Estados Unidos junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield destacou a assistência dos norte-americanos no combate ao terrorismo em todo o mundo, particularmente contra a organização extremista Daesh, através de treino tático, mentoria e equipamento.

"Temos de trabalhar em conjunto para assegurar que o Afeganistão nunca, mas nunca mais seja uma base para o terrorismo", declarou a diplomata norte-americana.

Lidna Thomas-Greenfield sublinhou ainda a "força" do regime de sanções e a pressão financeira como um dos instrumentos globais mais importantes para impedir a ação do Daesh e Al-Qaida e outros grupos afiliados.

Pelo contrário, o representante permanente da Rússia junto da ONU, Vasily Nebenzya, criticou a ação dos Estados Unidos com "recursos humanos e financeiros colossais", acusando que ao ter retirado a missão de assistência ao Afeganistão, os EUA arrasaram 20 anos de esforços.

O México, que se fez representar pela embaixadora Alicia Buenrostro Massieu, também pediu esforços para assegurar que Afeganistão não se torne um "refúgio para o treino de terroristas".

Após uma ofensiva relâmpago, os talibãs tomaram Cabul no domingo passado, o que assinalou o seu regresso ao poder no Afeganistão, 20 anos depois de terem sido expulsos pelas forças militares estrangeiras (EUA e NATO).

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.

A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.

Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o anterior regime, os talibãs têm assegurado aos afegãos que a "vida, propriedade e honra" vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.