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Pandemia é grande oportunidade para a economia do Brasil

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A pandemia de covid-19 é uma grande oportunidade para o Brasil repensar a sua estratégia económica a médio e longo prazo, avaliou hoje a consultora Roland Berger, acrescentando que esse movimento deverá contar com empresários, cientistas e políticos.

Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Roland Berger Brasil, o português António Bernardo, declarou que a pandemia veio agitar uma série de "aspetos económicos e sociais", e, "juntamente com as eleições presidenciais do próximo ano", tornam este o momento certo para pensar numa nova estratégia.

A consultora destacou que o Brasil é uma grande economia, com importantes recursos naturais e com um conjunto de empresários com visão global e moderna, mas tem passado ao lado de um processo de desenvolvimento que a posicione como uma grande potência global, estando em falta um "consenso sobre a estratégia a desenvolver e executar nos próximos 10 anos".

Para evoluir nesse sentido, António Bernardo defende que a nação sul-americana, com 212 milhões de habitantes, tem de apostar num crescimento económico que potencie uma menor desigualdade.

"O Brasil tem crescido pouco e, portanto, é uma economia que tem de crescer. O produto interno bruto (PIB) per capita, que hoje está na casa dos 8.500 dólares, tem de passar rapidamente para os 15 mil dólares e, posteriormente, para 20 ou 25 mil, que é o que tem Portugal. Deve aproximar-se de valores de país da América do Sul e Central, como Chile, Uruguai, Panamá, que estão na casa dos 15 mil", disse.

"Contudo, tem de ser um crescimento que potencie uma menor desigualdade, que é um grande problema no Brasil", frisou o português.

A partir desses dois objetivos, o Brasil, presidido atualmente por Jair Bolsonaro, deve lançar um movimento com apoio de empresários, cientistas e lideranças políticas para elaborar o programa "Re-imaginar Brasil 2030", baseado em sete eixos estratégicos, de acordo com António Bernardo.

Aumento da competitividade da indústria transformadora; maior abertura da economia com rápida integração das cadeias de valor globais; reduzir o peso do Estado e implementar um 'melhor Estado'; aprofundar a presença do país nos setores de futuro; atração de investimento estrangeiro de grande valor agregado; melhoria da qualidade dos serviços públicos, como saúde, educação, segurança e justiça; e reformas tributária, administrativa e política são os setes eixos estratégicos desenhados pela Roland Berger para o Brasil.

Para o presidente da consultora, reforçar a indústria manufatureira é fundamental no Brasil, porque é que aí que "se dá a inovação e onde a competitividade poderá melhorar."

A produtividade da indústria brasileira "afeta a competitividade. Nos último 20 anos, a produtividade da indústria cresceu 14%, o que é muito pouco. No mesmo período, países como a Coreia cresceram 212%, Alemanha e EUA 150% e, portanto, há a necessidade de aumentar a produtividade no geral, mas na indústria manufatureira em particular", detalhou.

Esse aumento de produtividade dá-se, de acordo com a Roland Berger, através da formação dos cidadãos e com investimento me tecnologia.

No campo das privatizações, António Bernardo considerou que empresas como a Petrobras, Correios, Eletrobras e o Banco do Brasil são uma prioridade, porque resultarão em receitas para o Estado, poderão ser melhor geridas pela iniciativa privada e serão fonte de receitas tributárias, através do pagamento de impostos.

Além disso, o especialista indicou que privatizações são "indispensáveis", porque, "em todo o mundo, não só no Brasil, as empresas públicas são sempre alvo de possíveis corrupções e compadrios, e as privatizações vão reduzir claramente isso".

Sustentabilidade e proteção ambiental, saneamento, mobilidade elétrica, digitalização e inteligência artificial e segurança cibernética são os "setores do futuro" que o Brasil deve apostar, contando com a Amazónia, maior floresta tropical do planeta, como um património de grande valor para atividades sustentáveis.

Em declarações à Lusa, António Bernardo avaliou que, "por vezes, o Brasil não gere bem a comunicação internacional", o que pode acarretar problemas.

Apesar de notar que os investidores internacionais gostam do país, o especialista acredita que a "imagem que o Brasil tem passado, e a comunicação que tem feito, talvez não sejam as mais eficazes", principalmente na questão ambiental, algo que considera que deve ser "aperfeiçoado".