Crónicas

“São rosas senhor, são rosas”

A corrupção espalha-se devido à ignorância e à falta de conhecimento sobre o que ela representa

1. Disco: passaram 10 anos sobre a surpresa que foi “Video Games”, o tema que lançou a carreira de Lana Del Rey. “Chemtrails Over The Country Club” é o resultado de um percurso certo e calmo, um percurso onde Lana foge das luzes da ribalta preservando a sua vida privada. “Chemtrails” é um disco carregado de nostalgia, de uma nostalgia belíssima que as letras das músicas ajudam a relevar. Tinha saudades deste disco e nunca o tinha ouvido.

2. Livro: “A Queda do Ocidente?”, de Kishore Mahbubani, é, como o autor começa logo por dizer, uma provocação. Se nos conseguirmos abstrair do facto de o autor entender que o ocidente e os EUA são a mesma coisa, podemos dele extrair inúmeras lições. Não é um livro perfeito, mas é, sem dúvida, uma enorme provocação ao nosso modo de ver as coisas.

3. Não há quem possa negar que a corrupção mina o desenvolvimento e a democracia, agrava a pobreza, corrói a sociedade, sufoca os serviços sociais e destrói a saúde pública. É prejudicial para a economia não apenas devido aos actos de corrupção propriamente ditos, mas porque priva o país de recursos públicos e privados - incluindo capital financeiro - que poderiam ser desviados para actividades produtivas, que criam riqueza.

Normalmente, quando falamos de corrupção, referimo-nos à que é feita em grande escala. Aquela que envolve primeiros-ministros que vão estudar para Paris e antigos secretários de estado que fundam bancos e os sugam até à falência. A que leva a nomear para cargos públicos amigos, familiares e correligionários partidários. Mas há-a de outro tipo que muitas vezes é esquecida: a que ocorre em pequena escala.

Este género de corrupção, muitas vezes chamada de “pequena corrupção”, ocorre em milhares de contextos. É o pagamento a fiscais de construção, funcionários e outros burocratas pelos serviços que são obrigados a realizar; é o jeitinho ao amigo; o processo que se vai buscar ao final da pilha; o pedido ao primo do cunhado do amigo, etc. A pequena corrupção envolve pequenos valores, ou não, e ocorre de forma mais ou menos isolada, tem a ver com o abuso diário do poder confiado a funcionários de nível baixo ou intermédio nas suas interacções com os cidadãos comuns. Esta pequena corrupção impõe um pesado fardo financeiro aos indivíduos, especialmente aos de menos recursos que são quem mais a ela recorre.

A pequena corrupção está difundida e profundamente arraigada na nossa cultura. Torna a vida muito mais difícil para os que procuram viver as suas vidas e realizar o que deveriam ser actividades normais. A corrupção sistemática cria um desequilíbrio de poder e uma cooperação forçada entre aqueles que exigem o suborno/favor e aqueles que o pagam. A pequena pode não significar o que a grande significa, mas em número de actos é esmagadoramente maior.

Que fique bem claro que a corrupção não tem só a ver com os que exercem a política, vai muito além disso. Pensar que o problema se restringe aos políticos, é enfiar a cabeça na areia e desculpar aqueles que tiram ganhos dos pequenos jeitos que fazem.

Para enfrentar esta corrupção endémica, de pequena escala, (mas que tudo somado representa somas enormes), esta deve ser atacada como tendo grande importância. Tenhamos presente que as razões da corrupção estão profundamente enraizadas na economia e na política, e nunca deixar de ter em consideração que é, também, uma questão cultural. Um favor que se faz a alguém passando por cima do regulamentado, mesmo que não envolva dinheiro, é corrupção. Vê-se muito por aí aqueles que gritam as facilitistas frases do costume contra a grande corrupção, e que são mestres no jeitinho e no favorzinho. Estas coisas têm que ser ditas com clareza. A corrupção espalha-se devido à ignorância e à falta de conhecimento sobre o que ela representa. Tenho mesmo presente que a partida para a grande corrupção é esta mais pequena, que subverte sistemas legais, políticos, burocráticos e sociais e que ajudam a corrupção a aumentar, passando para outro nível muito maior. Existe uma relação entre a percepção da grande corrupção e a da pequena? Antes de responderem, acreditem que a grande corrupção percebida está significativamente associada à pequena corrupção. Uma existe sustentada na outra. Apesar de normalmente envolver a transferência de pequenas quantias de dinheiro ou mesmo ficando-se só pelos favores, a pequena corrupção tem um enorme impacto, sobre os cidadãos e empresas, e um efeito corrosivo de longo prazo na sustentabilidade do crescimento económico, no ambiente de governança, na capacidade do governo cobrar impostos e no Estado de Direito.

Para que isto deixe de acontecer, a mudança passa por uma profunda alteração do modo cultural com que olhamos para estas coisas. Quem, de entre nós, nunca recorreu a um favor para resolver um problema, seja ele qual for, tenha o alcance que tiver? Serão, certamente, muito poucos os que disso se podem gabar. É quase visceral que assim seja.

Abordagens bem-sucedidas para combater esta pequena corrupção mesquinha envolvem o uso de uma combinação de medidas destinadas a reduzir a burocracia, sanções eficazes, reforma do sector público, promoção da detecção e constante fiscalização usando todos os meios disponíveis e recorrendo às novas tecnologias. E, primeiro que tudo, para que se garanta o sucesso, estas abordagens têm de estar apoiadas numa forte vontade política. Que não há.

4. Esse grande vulto do pensamento político que dá pelo nome de António Costa, disse, numa entrevista a 4 de Março ao Público, que “esta crise foi o maior atestado de falhanço das visões neoliberais”. Muito francamente, e já o escrevi aqui diversas vezes, não faço a mínima ideia do que é isso de neoliberal. Não é que a expressão não exista, a minha dúvida, como liberal, é sobre o que isso significa.

5. Conta a lenda que João Cotrim Figueiredo foi informado sobre as palavras de António Costa e do desconhecimento que isso representava. Um belo dia, o deputado da Iniciativa Liberal decidiu surpreender o primeiro-ministro numa das suas habituais diatribes na Assembleia da República Levantou-se o tribuno e confrontou o grande líder perguntando-lhe o que era essa coisa de neoliberalismo de que passava a vida a falar.

Fez-se um enorme silêncio, tão grande que até já doía. Na bancada, os menos que Costa bichanavam hipóteses de resposta. Às tantas, o presidente da magna assembleia insistiu com o primeiro para que este respondesse.

A custo lá se levantou o maior dos socialistas. Afastou a máscara que lhe tapava a cara impedindo que se visse a sua fácies perturbada, respirou fundo e disse: — São rosas senhor Deputado, são rosas.

6. Na Holanda os liberais ganharam as eleições. Na Holanda o segundo partido mais votado é liberal. Confusos? Não estejam. O António Costa depois explica. 

7. Distúrbios do trato gastrintestinal; Aumento do risco de sangramento; Anemia pós-hemorrágica, anemia por deficiência de ferro; Reações alérgicas (hipersensibilidade); Erupções na pele; Mau funcionamento temporário do fígado; Zumbidos e tonturas; Comprometimento dos rins e alteração da sua função (insuficiência renal aguda). Costumam ler as bulas dos medicamentos que tomam? Nestas estão sempre os possíveis, e na maior parte das vezes raros, efeitos secundários. Os que vão acima são alguns dos de uma simples aspirina.