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Bolsonaro critica medidas de isolamento apesar do agravamento da pandemia

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O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, um dos mandatários mais céticos em relação à gravidade da pandemia, criticou as novas medidas de isolamento impostas por governadores para enfrentar a covid-19, apesar do agravamento da situação no país.

"O povo já não consegue ficar em casa. O povo quer trabalhar. Esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão do que o povo quer", disse o líder de extrema-direita em declarações numa cerimónia de inauguração de uma estrada no Estado do Ceará, na sexta-feira.

O chefe de estado voltou a rejeitar o distanciamento social, num momento em que cada vez mais Governos estaduais e municipais estão a adotar medidas mais severas, como toques de recolher noturnos e confinamentos, para evitar aglomerações e o colapso de hospitais.

As medidas foram adotadas nos primeiros meses da pandemia, em 2020, e começaram a ser amenizadas em junho último, mas o aumento no número de mortes e infeções por covid-19 em todo o país está a levar executivos locais a reinstaurá-las.

Nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Bahia, um confinamento total entrará em vigor na noite de hoje para evitar o colapso hospitalar, uma vez que as taxas de ocupação em unidades de terapia intensiva já ultrapassam os 90%.

Já o Governo de São Paulo, o Estado mais populoso do Brasil, anunciou hoje que a quarentena na sua capital e em outras cinco importantes regiões, voltará a uma fase mais restritiva, que prevê o encerramento de bares e proíbe o funcionamento noturno de restaurantes.

Outros Estados, como Amazonas, Mato Grosso, Piauí e o próprio São Paulo, impuseram toque de recolher noturno nos últimos dias.

Segundo autoridades sanitárias brasileira, a situação agravou-se em praticamente todas as regiões do país.

O Brasil, um dos países mais atingidos pela crise de saúde e que acumula cerca de 252.835 mortes e 10,4 milhões de infeções um ano após o registo do primeiro caso da doença, enfrenta atualmente uma segunda vaga da pandemia, mais contagiosa e mortal do que a primeira.

Só na quinta-feira, foram registadas 1.541 novas mortes por covid-19, o segundo maior número diário de óbitos, e que confirmam o Brasil como o segundo país com mais vítimas mortais devido à covid-19 no mundo, depois dos Estados Unidos.

Apesar do agravamento, Bolsonaro criticou as medidas contra o distanciamento social um dia depois de ter questionado a eficácia do uso de máscaras para evitar a propagação do vírus.

O Presidente citou um alegado estudo alemão, sem rigor científico e limitado a uma sondagem com ampla participação de negacionistas, para argumentar que as máscaras não são eficazes para conter a propagação do vírus e que causam "efeitos colaterais".

Sem máscara ou qualquer medida preventiva, Bolsonaro causou aglomerações durante o dia de hoje, no Ceará, e disse sentir uma grande satisfação por estar no meio da população.

"Aos políticos que me criticam, sugiro que façam o mesmo. Tenho grande prazer em estar no meio do povo e poder dizer a esses políticos e dirigentes (dos Governos estaduais) o que mais escutei aqui: 'Presidente nós queremos trabalhar'", disse Bolsonaro, insistindo que as medidas de distanciamento causam a falência de empresas e o aumento do desemprego.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.508.786 mortos no mundo, resultantes de mais de 112,9 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.