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Novos horizontes

A cada ano que termina há um ciclo de vivências que se encerra. Por estes dias concluem-se as últimas reflexões sobre aquilo que deixámos por fazer, aquilo que gostaríamos de ter feito e, também, aquilo que fizemos. Tudo somado chega-se ao resultado daquilo que se viveu, projeta-se aquilo que se quer fazer e, em norma sob a forma de passas, ingere-se, às doze badaladas que iniciam a madrugada de 1 de janeiro, aqueles que são os grandes desejos da nossa vida para o ano seguinte. Há lá melhor forma de começar o ano do que a comer?

2021 termina como começou. Com uma enorme expetativa sobre o regresso à plenitude e normalidade dos nossos dias, que entre as máscaras habitualmente utilizadas por asiáticos em aeroportos, a rotina de enfiarmos uma zaragatoa no nariz pelo menos uma vez por semana, e a questão, pela hora do jantar, “quantos casos serão hoje?”, teima em regressar àquilo que conhecíamos.

Ninguém dúvida que nos últimos 21 meses, tem assistido a um período histórico que constituirá parte do programa da disciplina de História das novas gerações. Todavia, há um desafio maior que se põe a toda a Humanidade: compreender que mais do que aquilo que estamos a viver, o grande desafio será lidar com as consequências futuras das decisões presentes. Nunca o desafio para as Democracias foi tão exigente.

A pandemia em que vivemos vem demonstrar que a política não pode ser feita sem transparência e objetividade na ação. Quem cai no facilitismo do discurso populista não passa de um mero invertebrado que, por força das circunstâncias, sucumbe ao dinamismo próprio de fenómenos complexos, dando corpo ao mote “pela boca morre o peixe”. A pandemia demonstrou, ainda, que não consegue fazer política quem não está disponível para ser impopular, e que não é lugar para quem prefere as “boas graças” da tasca ao invés da crítica da opinião pública e publicada, própria dos escrutínios da Democracia. Liderar é decidir, decidir implica opções, optar implica um quadro de valores. Quem está na política por vaidade, normalmente, não tem o referido quadro sendo remetido, no devido tempo, à sua insignificância. É uma espécie de seleção natural que elimina aquilo que “está a mais”. E, a Madeira, não foi exceção.

Para 2022 sobra a esperança de que a normalidade, tal como a conhecíamos, regresse na certeza de que os próximos anos serão tão ou mais desafiantes do que aquilo que vivemos até aqui. Em 2022 há uma nova geração que chega aos 30 anos, ou para lá caminha, que viveu nos últimos 15 anos numa crise profunda. Nem a recuperação entre 2016 e 2019, sentida em todo o País, permitiu recuperar os anos de desinvestimento e atraso face aos congéneres europeus.

Não basta falar da pobreza relativa em que o nosso País está estruturalmente mergulhado. Importa relembrar que Portugal tem sido incapaz de criar um desígnio nacional coletivo que integre as valências de todo o seu território.

Falta cumprir Portugal na emancipação dos nossos jovens, na fiscalidade, no aprofundamento das Autonomias, na Habitação, no Emprego e na Saúde. Por muito que se estejam- e estão- a tomar decisões interessantes nas Regiões Autónomas nalgumas destas matérias, todas elas ficam aquém do que poderiam ter sido, por falta de Autonomia. Simplesmente porque, no nosso país, há políticos que julgam que para lá do horizonte do Tejo já não há Portugal, numa clara demonstração de quem sente que foi dono do mundo e o perdeu, confinando-se ao retângulo à beira-mar plantado, desligado e esquecido, de tudo, inclusive de si próprio. Para esses, deixo um conselho para 2022: há sempre mais mundo do que aquele que a vista consegue alcançar.