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Com Princípios. Sem Privilégios.

O título deste artigo de opinião estava estampado no cenário do XIX congresso do PS Madeira, em que fui eleito presidente, diga-se com muita honra, ainda para mais quando fui eleito com a maior votação da história do partido. E diz muito da forma como estou na vida.

Os resultados das eleições autárquicas não foram o esperado, apesar de todos os esforços e dedicação, seja da minha parte, e de todos os candidatos e candidatas, mas também de militantes e simpatizantes. Gente realmente grande. Apesar de não ter sido candidato e de não ter culpa directa nos resultados, a minha consciência disse que tinha de assumir por inteiro a responsabilidade. Sei que apesar de não ser uma derrota minha, tinha de ter consequências para mim. Ainda para mais quando perdemos o Funchal, conquistado com a candidatura que liderei em 2013 e renovada com maioria absoluta em 2017. Assumir a responsabilidade é um princípio do qual não abdico, e decidi demitir-me da presidência do partido e sair da Assembleia Regional. Encarei sempre a política como uma forma de servir. Um compromisso público de estar ao serviço da população, sem olhar a cargos, dinheiro ou benesses. O único privilégio é o de poder ajudar as pessoas e fazer algo pela nossa Madeira. E movi-me sempre por causas e com ética. Sempre sem medo. É por essa razão que não tenho de provar nada a ninguém, porque sempre dei a cara, seja nos bons ou nos maus momentos. Quando foi preciso avançar, e tantos outros recusaram-no, fi-lo mesmo que com prejuízo pessoal. Mas não me queixo porque a nada fui obrigado e tenho orgulho no que realizei. É por isso que luto sempre e nunca desisto. Mesmo que por vezes tenha de ajustar a rota do destino. E na política não somos mesmo todos iguais. Mesmo com a minha demissão da liderança do PS estou a lutar, porque pelo exemplo também se luta, e ao assumir responsabilidades estou a lutar por princípios éticos indispensáveis à democracia e a quem exerce cargos públicos. Outros deveriam tê-lo feito, mas agarram-se sempre aos seus poderes. Basta olhar para o governo regional. Quantos casos não foram tornados públicos de promiscuidades, de falta de transparência, de falcatruas, de esquemas, de má gestão de dinheiro público, de favorecimento de interesses pessoais ou privados, de actos ilegítimos e de uso abusivo da sua posição, mas que nunca deram azo a uma única demissão?

No domingo passado coloquei um ponto e vírgula na minha actividade política. Não foi uma decisão fácil e indolor. Mas quero dizer que tal não significa que vá desistir de lutar por uma mudança da nossa Madeira. Nunca irei desistir. Serei sempre um militante activo do PS e um cidadão interventivo. Tenho consciência da minha responsabilidade por tudo aquilo que representei de diferente na nossa Região, e na confiança que tantos madeirenses e porto-santenses me deram. Mas nunca fiz ou consegui nada sozinho, e tenho de dizer que nunca o teria conseguido sem o PS Madeira. Nunca. Mas este partido é maior do que eu e continuará com os seus valores, a sua força e a sua resiliência, com a certeza de que a alternativa a este regime passará sempre pelo PS.

É com base nos seus princípios e sem privilégios que teremos de lutar contra a imoralidade, contra a opressão, contra o medo, e indignarmo-nos contra a normalização de uma espécie de corrupção institucionalizada, que favorece a construção de grandes riquezas, ao mesmo tempo que produz tantos pobres. Tudo isso tem dado cabo desta democracia, uma democracia cada vez mais áspera e forjada, um sistema cada vez mais parecido com o regime venezuelano. E isto não faz bem à democracia, nem faz bem às pessoas. Vivemos num regime de dependências pouco saudáveis. Os donos disto tudo dependem do governo regional, completamente vergado aos interesses que sugam os milhões do orçamento regional, impedindo que a economia crie a dinâmica necessária para esbater tantas desigualdades. Este não é um discurso contra os empresários, porque são eles que criam riqueza e geram empregos, é até um discurso a favor da iniciativa privada e de tantos empresários que querem ter sucesso e não podem, porque não os deixam. Falta iniciativa privada liberta do governo regional. E assim se vai criando um sistema que cria pobres, muitos deles até com trabalho, mas com salários muito baixos, explorados e dependentes do subsídio, que não passa de uma esmola. Interessa manter esta dependência assente na pobreza, porque isso dá votos, que por sua vez fá-los manterem-se no poder. Para favorecer os mesmos de sempre. Um ciclo vicioso. E isso viu-se tanto nestas eleições. Tantos votos comprados. Este poder trata as pessoas como escravas, e ainda lhes pede que se lhes agradeça, pelos salários baixos, pelos frangos congelados ou pelos electrodomésticos “oferecidos”. Amanhã volto a exercer a profissão que acredito ser aquela que pode mudar o mundo, a de professor. Regresso à escola como saí para ser presidente de câmara, sendo a mesma pessoa, e acreditando nas mesmas causas. Acreditando que a mudança é possível.