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A desvalorização do património de Porto Santo

É verdade que o Porto Santo é, essencialmente, um destino balnear. Mas será apenas balnear?

Formada há 18 milhões de anos e indissociável dos Descobrimentos Portugueses, tendo sido descoberta em 1418 pelos navegadores João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira. O seu nome foi dado, segundo a História, por ter sido refúgio a uma grande tempestade.

A ilha dourada, não pela sua areia, mas sim pelas suas antigas plantações de trigo, ilha da boa praia... da boa uva, melancia e tomate. A ilha de boa gente. A ilha da água turquesa e quente, daquela que “nem é preciso se molhar para mergulhar”. A ilha, Porto Santo, é um autêntico paraíso. Como dizia Max: “a joia mais antiga, das joias de Portugal”. Porém, a ilha não se faz somente disto.

Tive o privilégio de passar duas semanas no Porto Santo e, nesse período, conheci praticamente tudo, o que me deu tempo suficiente para me aperceber de algumas coisas.

É uma região com grande História e grande património. Mas a verdade é que não é valorizado e, muito menos, preservado.

Tomo como exemplos: a degradação dos moinhos de vento, as igrejas fechadas, fornos da cal destruídos, a pouco informação sobre os trilhos existentes nos picos, o património geológico da ilha a desaparecer, a inexistência das eiras de trigo, a fábrica de água do Porto Santo fechada, as casas de abrigo do Pico Castelo e Pico Branco fechadas, fósseis de antigas árvores a se perderem, a zona da Fonte da Areia a ser destruída pelos jipes e moto4….

Existe alguma explicação para isto? Ou ninguém se importa com a perda de património local?

Contudo, o mais chocante disto tudo, é ver que no debate para as eleições autárquicas, o património de Porto Santo não foi mencionado. Ora, preservar e salvaguardar estes vestígios passados, asseguram-nos a continuidade sustentável da sua existência e do que foi outrora. Preservar o património local é um pilar de identidade e coesão para as comunidades residentes e consequente estabilidade económica. A falta de interesse por parte de agentes culturais contribui para afastar as raízes e inibir a integridade dos valores dos próprios habitantes.

Resumindo e baralhando, Porto Santo continua a ser vendido apenas como destino de praia (ou como colónia de férias da Madeira), o que faz com que a característica sazonalidade se mantenha. Que tal preservar o rico património histórico e geológico que a ilha dispõe, deixarmo-nos de quezílias familiares e políticas, e mostrar o que é realmente o Porto Santo, uma ilha visitável em qualquer altura do ano?

Caros políticos, sei que o que dá votos é a construção de uma estrada, de uma casa, ou melhoramentos da via pública em ano de eleições… mas que tal olhar e tratar bem a ilha, preservando-a? O Porto Santo pertence aos Porto-santenses, e ao mundo. Acordemos antes que seja tarde.