O Dia do Professor

Como exerci esta função durante mais de quatro décadas gostaria de listar algumas questões que me parece estar a afetar negativamente a atividade dos professores. Desde logo a sua formação porque uma parte substancial da mesma deveria obrigatoriamente incidir sobre os temas científicos e menos sobre os da área pedagógica. E esta parte científica da formação deveria ser dada pelos professores mais experimentados evitando-se deste modo o recrutamento de “mercenários” que normalmente nunca lecionaram os temas e portanto nem deviam ser escolhidos para formadores. Com esta medida ganharíamos uma maior interação entre os professores do grupo e o Estado pouparia dinheiro. Às entidades externas apenas deveria ser permitido dar formação sobre temas da área pedagógica cujo peso nunca deveria ultrapassar uma vigésima parte do total. Uma maior atenção deverá ser dada aos auxiliares de educação mormente no que respeita à sua formação, imposta por lei, mas que tem sido incumprida. É uma parte do sistema educativo que deverá ser mais valorizada pois dela também depende o bom funcionamento das escolas e por arrastamento a eficácia do sistema. Os recreios no primeiro ciclo são muitas vezes supervisionados pelos professores devido à insuficiência de funcionários e/ou à sua má preparação A utilização de desempregados nesta missão tem-se revelado um desastre salvo raras exceções. Aos professores deveria ser solicitada no final de cada ano uma opinião crítica acerca dos principais constrangimentos encontrados no exercício da sua atividade. As reuniões dos professores ao longo do ano para tratar dos assuntos são quantitativamente exageradas e normalmente ineficazes por não se centrarem no essencial constituindo um puro desperdício de tempo na maior parte dos casos. Os professores devem trabalhar com os alunos porque foi essa a razão pela qual foram contratados e não para serem destacados para outras funções acabando-se com esta vergonha de existirem centenas a não contribuírem para o sistema fazendo com que os verdadeiros docentes tenham que suportar turmas com um número exagerado de alunos. E como se não bastasse esses pretensos professores recebem uma classificação automática de excelente enquanto os verdadeiros, os que exercem a profissão, sujeitam-se a um processo de avaliação que dificilmente lhes permitirá alcançar tal distinção. Isto é manifestamente injusto. Naquele grupo incluem-se os destacados para os sindicatos, para a direção das escolas e cargos políticos. Devem ser realizados testes vocacionais no final do 9º ano a todos os alunos bem como aproveitar todo o manancial de informação recolhida pelos professores dos ciclos anteriores que se fartam de fazer relatórios individuais extensos sobre cada um dos seus alunos, que depois não são utilizados, por forma a ajudá-los a melhor escolher a sua área de aprendizagem. Valorizar o ensino profissional não o tratando como o parente pobre do sistema até porque existe uma maior procura pelos alunos deste ramo de ensino por parte do sistema empresarial. Este ramo do ensino secundário, primeiro o privado e depois o oficial, foi pioneiro na interação com as empresas, através dos estágios, contacto que muito valoriza os conhecimentos teóricos e tem proporcionado emprego a muitos estudantes pela sua boa preparação. Dotar as escolas de uma estrutura constituída por técnicos especializados nas áreas da psicologia e assistência social para ajudar os alunos na resolução dos seus problemas de natureza pessoal, económica ou familiar, identificados pelos professores e que afetam o comportamento e aproveitamento dos alunos libertando os professores e diretores de turma dessa função que claramente ultrapassa as suas capacidades e competências. Maior atenção ao comportamento menos correto dos alunos no contexto da sala de aula pois há professores com depressão por esse motivo. Na minha opinião todas as aulas deveriam ser filmadas não só para prevenção dos maus comportamentos dos alunos como para avaliação do desempenho dos professores. Estes profissionais com mais de sessenta anos de idade deviam ser afastados da sala de aula devendo ficar exclusivamente afetos a tarefas de apoio aos colegas mais novos sobretudo na sua formação. Quem se opõe a esta medida não tem a noção do quanto é exigente o trabalho numa sala de aula. Torna-se também necessário um maior empenhamento dos pais no acompanhamento da vida escolar dos seus filhos mas que isso seja feito de forma positiva e não destrutiva da função do professor. As duas partes devem complementar-se. O que se verifica atualmente é que muitos pais em vez de ajudarem prejudicam a relação de respeito, que deverá existir, entre aluno e professor. Os pais precisam de formação, a qual deverá ser obrigatória, sobre qual deverá ser o seu papel junto da escola. E por aqui me fico.

Manuel João Rosa

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