Crónicas

Trump vs Todos Menos Trump

Não me parece que o fundamentalismo se combata com radicalismo

É engraçado ver a forma como por cá se vai tomando partido nas próximas eleições presidenciais norte-americanas. Escolhem-se lados e defendem-se candidatos com unhas e dentes, como se do nosso País se tratasse. O fanatismo que vai proliferando de forma camuflada na nossa sociedade ( nomeadamente nas redes sociais ), ganha assim nova batalha que acende discussões nas novas mesas de café, os grupos de whatsapp. O que as pessoas não conseguem entender é que não é possível analisar esta contenda aos nossos olhos, porque a cultura americana é diferente e porque são eles que sentem na pele as boas ou más medidas praticadas. À maioria dos portugueses chegam apenas alguns soundbites amplificados pela imprensa.

Eu também acho Donald Trump um lunático e mais preocupante que isso dá todo o ar de ser racista. Isso é para mim intolerável e por essa razão não me imaginaria algum dia a votar nele. Porque o sinto nos seus olhos e nas suas respostas, por isso não preciso que ele o diga diretamente. Porque para mim esse é um principio básico para eu escolher as pessoas de quem eu gosto e que me rodeiam, como serve também para as que acho preparadas para assumir os cargos em que me representam. Acho no entanto absolutamente lamentável, a campanha que a nossa comunicação social faz, contra o candidato Republicano. Profissionais que deveriam assinar peças jornalísticas isentas colocam a sua seriedade intelectual no bolso e escrevem artigos altamente tendenciosos, arranjando malabarismos linguisticos para afirmar a sua posição. Em tudo parecido com o Chega e o Bloco de Esquerda. Ambos levados ao colo pela imprensa, “os primeiros porque são odiados e os segundos idolatrados”, como disse ( e bem ) um amigo meu.

O que as pessoas por cá ainda não perceberam é que as lentes com que olham os Estados Unidos não podem ser as mesmas que usam no dia a dia. Basta dar o exemplo de que chamar socialista a alguém por lá é quase uma ofensa e por cá é considerado por muitos um elogio. E não perceberam também que quanto mais se afundam no politicamente correto, nas ditaduras de esquerda em que só se pode existir se se estiver desse lado, mais afastam algum do eleitorado moderado ou independentemente. Nesse aspeto existe até um certo paralelismo com o caso português, com as devidas diferenças. Arautos da moralidade, pseudo intelectuais e supostos progressistas vociferam recorrentemente tudo aquilo que criticam. Chegam ao ponto de apelidar de burros e incultos quem sequer ousa ensaiar um “mas…” mesmo que não defenda coisa nenhuma. Ora, não é assim que se levam os “howdy boys” da América profunda. Até porque já anunciaram nas eleições anteriores que vinha aí o “bicho papão” e as coisas funcionaram ao contrário.

Pouco ou nada importa, que eu próprio não me reveja minimamente em Trump embora também não me reveja num candidato ( Biden ) forjado por sentimentos de ódio, que lhe chama palhaço num debate, cheio de rabos de palha e que acabará ( se ganhar ), uma legislatura ( num regime que embora federalista é ao mesmo tempo presidencialista ) com 82 anos. O importante aqui de ressalvar é que não me parece que o fundamentalismo se combata com radicalismo e que a suposta superioridade moral não raras vezes produz dissabores. Enquanto não perceberem que são essas posições extremadas que levam de cadeirinha tantos moderados para o polo oposto, não percebem absolutamente nada do que se está a passar. Não é tratando as minorias como coitadinhos que chegam lá, mas sim dando-lhes as mesmas oportunidades e direitos mas também obrigações e responsabilidades. Sim aquelas que vocês tanto apregoam mas muitas vezes não dão. Nem é destruindo estátuas em vez de estudarem e aprenderem com os erros da história para que não se repitam. Vocês estão a fazer tudo o que ( tão bem ) criticam veementemente. Vocês são na realidade os novos fascistas, carregados de hipocrisia e preconceitos.

“O que hoje se receia é a nova dogmática feita de novos preconceitos. Não tenhamos ilusões. Se as democracias não souberem resistir a esta espécie de vaga que se denomina libertadora e igualitária, mergulharão rapidamente em novas eras obscurantistas.”

António Barreto

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