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A promessa do Jardim do Éden que agoniza

À medida que a data das eleições legislativas regionais se aproxima, despejam-se promessas melosas e de prazenteiras fragrâncias que enchem manchetes de jornais, cujo “jornalismo” amorfo habituou-se apenas a ser uma caixa de ressonância daquilo que chega às redacções, convenientemente mastigado das máquinas de propaganda partidárias. Basta ver e ler as entrevistas dos vários cabeças-de-lista, para constatar a pobreza e o vazio que assombra aquela gente e a sua confrangedora impreparação nos temas sectoriais.

Existem as bandeiras e alguns assuntos âncora que alguns capitalizam: o ferry permanente (como se alguém ganhasse eleições com esse sebastianismo provinciano) e o pacote financeiro (os juros agiotas mais altos do que aqueles com que a república se financia, cobrados aos madeirenses). Neste registo o PS capitaliza, pois António Costa (que também vai a eleições), move os cordéis em Lisboa de modo a que as suas marionetas regionais galvanizem apoio popular entre os colonos da ilha, beneficiando do facto de ter a faca e o queijo na mão. Assisto petrificado com o exército de servos da gleba locais, cujo sangue escravo lhes proporciona o pináculo da sua existência: serem capatazes. A bonomia disso é executarem uma chantagem com os meios do Estado, sabendo que jamais concretizarão esse benefício, atirando a autonomia e os madeirenses às urtigas.

Saindo das nossas fronteiras observamos um mundo cada vez mais estranho e em pleno processo autofágico. Enquanto a Macron tentava superar a sua medíocre liderança com a Cimeira G7 em Biarritz, assistíamos a vastos incêndios na região amazónica, como se eles fossem novidade naquele pulmão mundial. Em plena era do ex-presidente agora encarcerado Lula da Silva em 2005, a Amazónia já ardia. Na África equatorial outros tantos lá ocorrem, mas apenas porque há interesses europeus lá instalados, a indignação fica contida. A tal indignação que leva a que a Europa, com a sua petulância moral atire fundos financeiros em prole da preservação da bacia amazónica, que tem o Brasil de Bolsonaro o grande odiado, mas também os angélicos Maduro e Morales que com o seu socialismo militante tão bem cuidam das suas manchas verdes desse mesmo pulmão transfronteiriço.

O clima está na moda e na agenda dos decisores políticos. Dá-lhes um ar de actualidade, modernidade e mostram que parecem preocupados. Mas tenho a ideia que na maior parte das vezes, é apenas um adereço comunicacional alavancado pelo “mainstream”. Cada vez mais há promessas de mais alcatrão e cimento “quer queiram, quer não”, como o recente anúncio de Albuquerque sobre a ligação das Ginjas ao Paúl da Serra. O desmesurado edifício do novo Savoy está imponente e enfeitado de verdura que por ele escorre, contudo não deixou de ser um mamarracho apadrinhado pelos principais actores do espectro político regional como expressão monumental e icónica do “pato-bravismo”. A teimosia conjugada com algum poder nesta terra compensam. A absurda “greve climática” estudantil encabeçada por uma propaganda bem oleada que tem o rosto da miúda sueca, não joga bem com a greve dos camionistas de matérias perigosas. Os alunos portugueses ainda arriscam uma requisição civil e serviços mínimos majorados, traçado pelo governo das esquerdas unidas.

O bíblico “Jardim do Éden” agoniza, mas a nossa estupidez parece florescer cada vez mais.