Artigos

O Suíço

Quanto mais o vento aumentava de intensidade, mais sentia aquele magnífico veleiro avançar, sulcando as ondas daquele lago rodeado por suaves montanhas. A cada manobra, quando as minhas mãos passavam de uma roda de leme para outra, sentia a sensibilidade do barco a cada movimento meu. À minha frente, oito velejadores lusos, em perfeita sintonia, mantinham incansavelmente as velas adaptadas à intensidade e mareação do momento.

Quarenta e quatro pés de carbono, centenas de metros quadrados de vela, tensões de toneladas, e uma concentração máxima de toda uma equipa, desfrutando de todo o potencial de um dos melhores monocascos do planeta. E depois o prazer de estar ao leme. Indiscritível, supremo, inesquecível.

Horas depois, já na pequena marina de Grandson, sempre aquele suíço, omnipresente desde que chegáramos ao Lago de Neuchatel, com uma alegria perfeitamente contagiante. De manhã cedo até noite dentro, a acompanhar todos os momentos daquele nosso primeiro contacto com uma realidade, que sempre nos havia custado a acreditar. Mas que ali estava materializada, tal como ele nos dissera, meses antes, numa reunião no aeroporto de Geneva, ali realizada por causa de uma tempestade de neve.

E não era por acaso que continuávamos incrédulos. O projecto deste homem que, em tempos, tentou sem sucesso chegar aos Jogos Olímpicos, passa por realizar uma das maiores competições de vela de sempre. 144 países participantes, mais de 10 milhões de espectadores, 14 barcos iguais àquele onde velejáramos. Tudo integralmente concebido, idealizado, organizado e financiado por uma única pessoa.

Quando chegámos a casa ao fim do dia, que ele havia adquirido para nos alojar durante os treinos, uma mansão com mais de cem anos, à beira do lago, e sentamo-nos à volta da mesa, parecia estarmos a viver um conto de fadas. Dezoito pessoas falavam sobre mar, barcos, velas, regatas. Mas não eram quaisquer pessoas. Eram a nata da vela mundial. Durante uma semana, foi a bandeira portuguesa que teve honras de convidado. Antes de nós, a Estónia. Depois, a Espanha.

Perguntará o leitor: “Mas quem escreve estas linhas não é do windsurf? O que faz ele ali?” Não faço ideia. Há coisas inexplicáveis.