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Os heróis que põem os golfinhos a voar

Desta vez estou a sério, sem sentido de humor. Não me apetece rir, porque a história é triste, não fosse haver um golfinho a voar sobre o Rio Sado e um homem que esta terça-feira pisou o solo do Porto Santo no seu 121º destacamento naquela ilha.

Já falei do assunto a três presidentes de Câmara, desde 2013, quando o Maurício pôs os pés na pista pela 100ª vez e o entrevistei, mas como os heróis não aparecem no horário da manhã na televisão, espero que o Jorge Gabriel leia estas linhas e o convide para ir lá à sua praça, porque os santos desta praça não fazem milagres.

Quando a 9 de Janeiro de 1991, ainda antes da primeira Guerra do Golfo, chegou no seu primeiro destacamento, o Cláudio Maurício, sargento da Força Aérea Portuguesa estava longe de imaginar quantos incêndios e cheias na Madeira iam fazer parte do seu currículo, bem como evacuações de emergência desde as Ilhas Selvagens e a muitas a navios e embarcações ao largo das nossas ilhas.

No dia 3 de Dezembro de 2012, com uma equipa da EMIR a bordo, pensou não voltar a ver terra. O EH101 Merlin da FAP esteve para amarar no regresso de uma viagem de evacuação de um turista a 700 (sim, setecentos) quilómetros da Madeira, mas disso não reza a história e as medalhas de mérito.

Passou uma soma de cinco anos da sua vida militar no Porto Santo, onde estará até a terceira semana deste mês, mas presumo que, uma vez mais, ninguém vá dar por ele e por nenhum dos outros homens e mulheres que, com ele, estão prontos 24 horas por dia. Sob os lemas “Para que Outros Vivam”, e “Sobre as Asas Ínclitas da Fama”, os militares das esquadras 751 e 502 da Força Aérea não procuram medalhas, mas faz-me alguma confusão, agora que se dá louvores e distinções a torto e a direito, que os autarcas (Fátima Menezes, Filipe Menezes de Oliveira e Idalino Vasconcelos) a quem falei neste caso único na vida das Forças Armadas Portuguesas, (28 anos seguidos em destacamentos no Porto Santo) não me tenham ligado nenhuma. Eu sei, não voto no Porto Santo e ele também não. Mas o Jorge Gabriel também não vota. Adiante.

Não tenho qualquer interesse pessoal numa medalha ao Maurício, até porque dele e da família tenho a amizade e uns bons pastéis de Azeitão quando me convidam lá a casa, mas profissionalmente entristece-me esta indiferença desde a entrevista que lhe fiz em 2013 e das histórias fantásticas que me contou para o meu livro sobre a Esquadra 751, incluindo a do Salvamento do Golfinho Asa, que ainda mora no Youtube para quem quiser ver.

Os heróis não salvam só golfinhos. Mas eu espero que a honra do convento se salve, com o reconhecimento por parte de alguém de direito e se houver por aí uma caixa de medalhas encomendadas ao quilo para os 600 anos, alguém que lhe ponha uma ao pescoço. O homem merece.