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Museu do Oriente mostra pela primeira vez porcelanas da Coleção Cunha Alves

Foto DR
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A antiga Coleção Cunha Alves de porcelanas dos séculos XVII a XIX, com cerca de 200 peças, vai ser exposta pela primeira vez no Museu do Oriente, em Lisboa, a partir de 09 de maio, foi ontem anunciado.

De acordo com o museu, trata-se de uma das maiores e mais completas coleções de porcelana chinesa de exportação existente na Europa, que passa estar integrada na exposição permanente dedicada à presença portuguesa na Ásia.

A exposição “Um Mundo de Porcelana Chinesa -- A Antiga Coleção Cunha Alves”, que será inaugurada às 18:30 de 09 de maio, contém uma coleção que foi adquirida pela Fundação Oriente em 2018, na Austrália, após um ano de negociações e contactos.

“Integrando cerca de 200 objetos de diferentes formas e motivos decorativos, esta coleção de porcelana chinesa de encomenda para o mercado ocidental constitui um acervo de referência na Europa, quer pela dimensão, como pela coerência e abrangência”, indica um comunicado do museu.

O espólio desta instituição conta atualmente com mais de 17 mil peças de países do oriente.

A coleção foi adquirida ao colecionador e diplomata Paulo Cunha Alves, que a constituiu ao longo de 25 anos, através de aquisições em países como Portugal, Bélgica, Estados Unidos, França, Países Baixos, Reino Unido e Austrália, o último onde a coleção esteve antes de ser integrada no acervo do Museu do Oriente.

A exposição está agrupada segundo as temáticas “Expansão da Fé Cristã”, “Os Deuses do Olimpo”, “Prazeres da Vida ao Ar Livre”, e ainda inclui os temas música, dança e poesia, satíricos, anedóticos e históricos, erotismo, galanteios e vaidades.

O novo núcleo possui 130 peças que o Museu do Oriente agora expõe, resultado de encomendas inspiradas em diferentes fontes iconográficas europeias.

Foram a chegada de Vasco da Gama à Índia, em 1498, e a conquista de Malaca em 1511, que marcaram o início das encomendas de porcelana chinesa para o mercado ocidental, onde Portugal desempenhou um papel pioneiro como ‘encomendador’, recorda o museu.

Desenhos, gravuras e pequenas pinturas a óleo, tendo por base modelos em prata, faiança, porcelana, estanho e madeira, eram enviados para serem copiados pelos artesãos chineses, resultando em coloridas representações a azul e branco sob o vidrado, e a esmaltes da “família rosa”, grisaille, preto e sépia, rosa carmim e dourado, sobre o vidrado.

O resultado foi a criação de “imagens ao gosto europeu que os artesãos chineses copiaram deixando transparecer no traço a pouca familiaridade para com este tipo de representação, muitas vezes conotada com costumes e hábitos ocidentais”.

Paralelamente a esta exposição, as peças que a integram são objeto de estudo no curso “Porcelana de Exportação”, orientado por Maria Antónia Pinto Matos, diretora do Museu Nacional do Azulejo e do Museu da Presidência da República, especialista em porcelana chinesa.

Em cinco sessões, que se realizam a partir do próximo dia 04 de maio, até 01 de junho, sempre aos sábados, este curso analisa a evolução da história da porcelana chinesa no decorrer das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911).

A dinastia Ming “representa um marco fundamental na história da porcelana, tanto na China como no mundo.

Foi na dinastia Ming que os portugueses procederam à encomenda de uma série de porcelanas personalizadas, as mais antigas a ostentarem forma e/ou decoração europeias, com as armas reais portuguesas - por vezes invertidas por engano do artista chinês ao copiar o desenho enviado -, a esfera armilar, o monograma IHS, heráldica de nobres e ordens religiosas e inscrições em português e latim”.

Sob a dinastia Qing, “a porcelana atingiu uma perfeição incomparável no âmbito da técnica”. “Todos os problemas foram resolvidos, desde os da matéria aos do fogo, e o gosto pela cor domina, tendo sido inventados novos tons até então desconhecidos”.

A produção sob a dinastia Qing foi extremamente abundante, tendo sido massivamente exportada para a Europa pelas diferentes Companhias das Índias europeias e, posteriormente, para os Estados Unidos da América, recorda ainda o museu.