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A cultura do convite

Qualquer de nós já se deve ter cruzado com alguém, com quem nos damos, que critica a falta de eventos culturais e de entretenimento na Madeira. Curioso é reparar que, quando esses eventos acontecem, são por regra essas as pessoas que procuram ter um convite (gratuito, claro está) para aceder ao mesmo. Nada mais nefasto.

Quem nunca pediu a alguém um convite, que atire a primeira pedra, mas tenhamos por certo que não há Cultura e Entretenimento gratuitos.

A Madeira não tem economia de escala nos principais sectores da nossa atividade económica e a Cultura e o Entretenimento não são exceção. A resposta do público não é elástica face à oferta, isto é; eventos com artistas, bandas, autores de qualidade superior, que exigem um custo de bilheteira mais elevado, não têm a resposta desejada por parte da procura. O baixo poder compra madeirense rejeita uma oferta mais cara, mas não é só disso que se trata.

Durante as últimas três décadas e de forma diversa, muitas entidades públicas promoveram, ainda que de forma absolutamente legítima, um hábito de oferta de entretenimento cultural gratuito. Tenho, por hábito meu, considerar que o gratuito não valoriza a oferta.

Se gostamos de um autor, uma banda, um jornal ou um Museu por exemplo, a nossa obrigação é pagar o custo do ingresso ou do bem cultural.

Este hábito do gratuito, aliado à cultura do convite pela influência dos contactos, degrada a possibilidade de promotores privados de elevarem a qualidade da oferta cultural na Madeira. E, a cultura do convite de que falo, vem na maior parte das vezes das “elites”, numa ilha onde o termo VIP (“Very Important People”) nem se deveria aplicar. Não há necessidade, porque essas pessoas não existem.

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