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Os Desafios para 2020

O próximo ano vai ser importante para perscrutar o futuro da Madeira.Muitos questionar-se-ão, teremos um novo ciclo ou, em vez, uma nuance do mesmo ciclo existente? A resposta, creio, trará o tempo, a perseverança dos protagonistas e a inquietude do povo.

Indiscutivelmente a oportunidade existe, fruto de uma nova composição política regional, mas é ladeada por dificuldades, umas internas, outras externas. Estas residem na avinagrada relação com a República que, confesso, o encontro dos dois Presidentes dos governos não me entusiasmou, crendo que António Costa só relutantemente cederá ás pretensões dos madeirenses, aceitando algumas, para adiar as restantes.

A conjuntura económica será progressivamente adversa, com o abrandamento económico nacional e europeu. Em boa verdade, a Europa está a atravessar um longo período de crescimentos lentos e baixa inflação, associado ao envelhecimento progressivo da população, aquilo que alguns designam de “japonificação” da economia europeia, algo que no Japão perdura desde a década de 90. E as empresas não crescem, sobrevivem com maior ou menor dificuldade, muito do emprego é mal remunerado, inclusive sendo indiferente ao nível de qualificações apresentado.

A economia da Madeira cresce felizmente há vários anos, mas ainda não recuperou inteiramente da queda abrupta de 2012. As dificuldades nas acessibilidades ao arquipélago colocam pressão no turismo, e só o engenho e a qualidade da marca Madeira contrariam. O desemprego regional é baixo, mas o desafio em o manter assim é também evidente.

A coligação que governa a Madeira ainda não pode mostrar todas as suas potencialidades, é simplesmente ainda muito cedo. Algumas das Secretarias estão em fase de integração de novas equipas e redefinição de estratégias. E aquelas onde, não tendo uma participação dos dois parceiros da coligação, não são expectáveis mudanças de políticas ou prioridades.

O PS, agora líder da oposição, anda meio perdido, aparentemente inadaptado à nova realidade, com uma prestação aquém do expectável e, até, desejável, para uma salutar dialética política e fiscalização do governo.

Existe sim uma mudança efetiva, o clima de descompressão na Assembleia da Madeira, com uma forma mais aberta e inclusiva de exercer o parlamentarismo. A práxis está cada vez mais distante do passado, em especial daquele mais distante e, muito de tal mérito, é do atual Presidente. São, pois, tempos interessantes aqueles que vivemos, como serão também certamente incertos. Os desafios são muitos, mas, como disse, as oportunidades também.

Muitos questionam sobre o que penso agora dos desafios para a saúde regional, em que o PSD administra, só, a SRS, se bem que no contexto lato de uma coligação?

Responderia com uma Esperança, uma Oportunidade e uma Preocupação.

Esperança porque o Programa de Governo aprovado é bom, é inclusivo ao incorporar as propostas de vários partidos do governo e até da oposição. Para além de bem escrito, tem substância. Alguns dirão que é um simples resumo de intenções, mas direi que é também uma bússola para o governo e a sua coligação, mas também municia a oposição na sua fiscalização. Inclui soluções para as altas problemáticas, incentivos à fixação de médicos, novos critérios de justiça na remuneração dos diferentes profissionais. Também uma nova cultura de responsabilização de todos, pelo aumento da produtividade e qualidade dos cuidados prestados aos utentes.

Oportunidade, porque poderá haver uma nova estratégia de resolução das listas de espera no SESARAM, não para as eliminar, mas sim para estagnar o seu crescimento e, posteriormente, as reduzir gradualmente. Hoje, há mais madeirenses a entrar nas listas de espera, do que a sair das mesmas. É a realidade. Aumentar a oferta de cirurgias, consultas e exames é importante, até mesmo com recurso à privada, mas não chega. É preciso haver uma melhor gestão clínica que defina, com critérios técnicos e transparentes, quem e quais são prioritários, para dar a resposta mais justa à população.

Preocupação, pois, o SRS é de todos os madeirenses. Não é de um só partido, uma só pessoa ou de uma só classe. Não é ainda certo que, a gestão autocrática e segregadora, que muitas vezes critiquei neste diário, tenha desaparecido totalmente do horizonte. E é preciso introduzir mudanças, algumas aparentemente dolorosas, algumas beliscando interesses instalados e, por maioria de razão, questionar os facilitismos indesejáveis num Sistema de saúde que se quer transparente e justo. É preciso mudar e, ao fazê-lo, resistir aos obstáculos que surgirão às mesmas. Exemplos não faltam. Tenho a esperança, mas ainda não é de todo certo, que a actual Administração tenha a coragem, ou até a vontade, de fazer tudo o que deve em prol dos utentes. É um desafio para todos, mas, acima de tudo, para ela mesma.

A todos, desejo um Excelente Ano 2020!