Há meio século éramos finalistas...

Há cinquenta anos, fomos os setimanistas do Liceu! Sim, porque, naquela altura, só era usado o termo “finalista” para o último ano do ensino liceal. A designação de “setimanistas” tem a ver com o ano terminal do ensino liceal - 7º ano, que corresponde ao atual 11º ano.

O fim do ciclo liceal era, na época, o atingir de uma dada “maioridade” (a maioridade legal só seria atingida aos 21 anos de idade). Era altura de mandar fazer o traje preto e procurar, entre familiares e amigos, uma capa para ser emprestada ou mandar fazer uma; não havia “pronto a vestir” onde ir comprar o traje completo.

O “primeiro acto” (era assim que se escrevia) deste ano terminal era a “Bênção das Capas”. No segundo ou terceiro sábado do mês de outubro, na Sé Catedral, numa missa rezada por um sacerdote (não pelo bispo), procedia-se ao ato de benzer as capas. Após a missa, na base da estátua de Gonçalves Zarco, era feita a tradicional fotografia dos setimanistas, seguindo-se um jantar do grupo e um baile. Este baile não tinha nada de especial, a “malta” ia a uma das discotecas existentes, que estavam associadas a unidades hoteleiras.

No dia 30 de novembro, realizava-se o Baile de Gala dos finalistas. Era a noite da grande festa. Há cinquenta anos, teve lugar no Ginásio do Liceu. Este baile prolongava-se pela madrugada, o que não era habitual, uma vez que, na época, os bailes acabavam cedo, relativamente aos atuais.

Após o baile íamos para o Cais (Marina) assistir ao nascer do Sol e depois tomávamos o pequeno almoço no café “Apolo”. Alguns prolongavam os “festejos” com uma ida à sessão de cinema, às 10:30h, no Teatro Municipal.

O uso do traje académico, somente pelos alunos do Liceu, não se restringia às ocasiões festivas. Semanalmente, num dia escolhido, os finalistas usavam o traje nas aulas. Nesse dia, o liceu e as ruas do Funchal enchiam-se de “capas negras”. Era um dia especial.

A viagem de finalistas era de cariz cultural, sendo sempre acompanhada por professores. Para a angariação de fundos para essa viagem, realizava-se um espetáculo musico-teatral, a Récita, e ainda outras eventos.

No Núcleo Museológico do Liceu Jaime Moniz existem fotografias dos setimanistas em grupo, do Baile de Gala e da Récita.

Em cinquenta anos muito mudou! Para melhor... para pior...? É tudo uma questão de perspetiva.

No entanto, a tradição das capas mantém-se. E o último ano do liceu continua a ser um ano marcante para a maioria dos alunos.