Crónicas

Discutir o Turismo

Para quem vive no continente, sai mais barato

Esta semana decorre no Funchal a 45.ª edição do Congresso Nacional da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo sob o lema ‘Opções Estratégicas’. Um dos muitos que procuram a nossa maravilhosa ilha para trabalhar sobre um tema e mais uma oportunidade para dar a conhecer o destino mas acima de tudo para nos colocar no centro da discussão estratégica do que podem ser as diversas valências do Turismo mas acima de tudo das diferentes formas para comunicar a nossa oferta, de chegar a novos públicos e de adequar à procura um pouco daquilo que podemos oferecer sem desvirtuar o que nos torna tão requisitados, a nossa essência. Todas as oportunidades são boas para fazermos também nós, agentes que por cá gravitam uma reflexão profunda do trabalho que tem sido executado e do que falta fazer para crescer de uma forma sustentada.

Não deixa de ser irónica a presença da TAP como um dos principais patrocinadores deste certame, companhia que tanto tem dificultado o desenvolvimento da Madeira e que se tem aproveitado desta ‘mama’ para equilibrar prejuízos noutras paragens. Começava precisamente por aí. Por ser nos últimos anos o principal obstáculo ao crescimento do nosso turismo e mais grave do que isso por se ter tornado num péssimo cartão de visita com os sucessivos atrasos e cancelamentos de voos que têm deixado uma pálida imagem da nossa Região Autónoma para os muitos que sofreram com o desgaste destes acontecimentos. É tempo de percebermos que as companhias aéreas se colam ao tecto do valor do subsídio de mobilidade pago pelo Estado, alinhando por aí os valores das passagens e prejudicando quem nos quer visitar e não é cá residente. Não é plausível que a Madeira não seja uma estância de férias tão ou mais procurada pelos portugueses que o Algarve apenas e só porque as viagens são incomportáveis.

O lema tão usado pelo Turismo de Portugal do “vá para fora cá dentro” pelos vistos era selectivo em relação ao que definiram por ‘dentro’. É que para quem vive no continente, sai mais barato ir passar férias a vários destinos da Europa e até para Marrocos, Tunísia e outros do que viajar até à Madeira. Continuamos por isso a assobiar para o lado quando na verdade e segundo dizem a Companhia Aérea bandeira é em parte pública e por isso sujeita também ao interesse dos contribuintes. Mas não são só as viagens que merecem discussão. É importante definirmos estratégias claras quanto aos públicos que queremos atingir. Para isso é fundamental começarmos a desenvolver campanhas internacionais sobretudo ao nível do Turismo da Saúde e do bem estar. Num recente estudo realizado nos Países Nórdicos pudemos constatar que as pessoas procuram cada vez mais a Natureza, o desafio do exercício físico e do descanso que possa ser complementado com uma parte de tratamentos e se possível com praia e mar. É nessa junção de factores que estão disponíveis a gastar mais dinheiro. Não me parecem existir aqui grandes novidades. Mas também os jovens que antigamente se mostravam menos receptivos a este tipo de Turismo dão agora mais valor ao que é saudável e procuram cada vez mais soluções que incluam as caminhadas e o exercício.

Ora, tudo isto nós temos com qualidade por cá. A segurança que diversos destinos não conseguem assegurar e todos os condimentos que esse estudo referia com o bónus das características dos que cá vivem e na essência do que é nosso e único como a culinária e paisagem. É preciso por isso definir rotas e roteiros, programas inovadores talhados para os diferentes públicos e ter a capacidade de os comunicar nos mercados que os procuram. Mais do que isso, definir uma estratégia para um Turismo que tal como o Mundo se encontra em permanente mudança e que vai pedindo novas soluções para públicos cada vez mais exigentes e para nichos que podem fazer a diferença. Como chegar às pessoas certas é o grande desafio uma vez que tudo o que procuram estes novos públicos já por cá existe.