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Pobre Democracia

O PS-M perdeu as eleições regionais porque o povo madeirense barrou o populismo e a demagogia

Nas últimas eleições regionais na Madeira tudo serviu para alcançar o poder: demagogia, populismo e até a mentira para já não falar do centralismo do Governo de Lisboa para suportar um apoio que lhe daria um poder quase global na cena política portuguesa não fosse Belém contrariar esse domínio.

Como sabemos a demagogia é uma praxe política que se apoia na base das massas, secundando e estimulando suas aspirações irracionais e elementares, desviando a sua real e crescente participação activa na vida política. Este processo desenvolve-se mediante fáceis promessas impossíveis de ser mantidas, que tendem a indicar como os interesses corporativos da massa popular ou da parte mais forte e preponderante dela coincidem fora de toda a lógica do bom governo, com os da comunidade nacional ou regional, tomado no seu conjunto.

Por outro lado, já o dissemos, o populismo é uma estratégia política empregada por um tipo específico de líder que procura governar recorrendo ao apoio directo e não mediado das bases. É especialmente popular entre os estudiosos das sociedades latino-americanas e não ocidentais. A Europa confronta-se hoje com este tipo de fenómenos cujo alcance preocupa de forma gritante as instâncias europeias e não só. A abordagem enfatiza o facto de o populismo implicar a emergência de uma figura forte e carismática, que concentra o poder e mantém uma ligação directa às massas.

Numa abordagem final considera o populismo predominantemente como um estilo folclórico de política, de que líderes e partidos fazem uso para mobilizar as massas.

Sem ideias, sem programa e com um objectivo: mudança.

O PS-M perdeu as eleições regionais porque o povo madeirense barrou o populismo e a demagogia.

Dito por outras palavras e lembrando Cafofo diria: a política, como o inferno, são os outros; uma espécie de mal absoluto, ao qual nos não resignamos senão porque temos mesmo que o aceitar, mas que reprovamos, e ao qual permanecemos profundamente, voluntariamente estranhos. Suspeita, a política é-o também, aliás em razão dessa distância que se estabelece entre ela e o cidadão: tudo se passa como se o seu universo se situasse fora das preocupações quotidianas e não dissesse respeito senão aos “grandes problemas”, a esses que continuam abstractos para as massas, pelo menos enquanto a significação se não concretiza – e nessa altura já será demasiado tarde – nos destinos individuais. Bastante paradoxalmente, a política vem assim a ser, aos olhos do individuo, uma espécie de domínio residual; o económico e o social, sob o seu aspecto mais imediato, não são vistos como políticos de natureza – o que explica os esforços de um certo sindicalismo no sentido de reintegrar toda a questão profissional numa perspectiva global, de maneira a conferir-lhe a sua verdadeira dimensão. Existe aqui uma desfasagem profunda entre a politização objectiva dos problemas, que caracteriza a época contemporânea, e a ausência de politização subjectiva.

Poderíamos resumir numa palavra todos os considerandos, sublinhando a que ponto o universo político permaneceu aos olhos do cidadão um universo fictício, um mundo imaginário, segundo a expressão de Schumpeter. Todos os estereótipos que se ligam à própria noção de política - é uma maquina infernal, uma sujeira, são disparates – traduzem uma profunda incompreensão e exprimem ao mesmo tempo, este sentimento de fatalidade que o individuo experimenta perante um destino regulado por outros que não ele e sobre o qual ele julga não ter poder. A História da humanidade mostra como uma vez este quadro mental socialmente instalado se abre a porta ao radicalismo à intolerância intelectual e autoritarismo político.

Foi isto que Paulo Cafofo trouxe como mensagem nas eleições regionais na Madeira que perdeu e que o PS não entendeu. Um discurso cheio de contradições como a questão da mobilidade territorial que o PS tinha já condicionado tanto na comparticipação das viagens aéreas como no ferry que seria só utilizado para mercadorias, contrariando as pretensões do Governo Regional. Que dizer do aviso de cortes nas Leis das Finanças Regionais que José Sócrates, de má memória, tentou levar ao limite com consequências gravíssimas para o bem-estar do povo madeirense para já não falar da comédia dos juros da dívida da Região para o qual o governo Regional tem apelado no sentido de se aproximarem dos custos que o Governo da República paga no BCE. E na história do hospital cujos cortes no financiamento para a sua construção têm posto em causa a sua construção. Enfim uma série incomensurável de contradições que só os cegos não viam...

As frases simplistas têm a vantagem de chegar facilmente às massas. Todavia mostram as suas contradições num escrutínio atento. A esse problema não escapam os “lugares comuns” de um certo populismo de massas. Foi isto que aconteceu...

Acredito na capacidade de escolher do povo madeirense, de superar o clima de irracionalismo e de fatalismo que alimenta o populismo e daí tomarmos as rédeas do futuro, projectando uma existência promissora. Temos de encontrar um modelo económico e social mais cooperativo superando esta mistura tóxica de “ideologia” populista. “Não podemos deixar que o futuro nos seja negado”.