O sonho e a realidade...
Aceitar a realidade mesmo que não sonhada é, talvez a melhor forma de alimentar o sonho
Diz-se, poeticamente, que o sonho comanda a vida e que sempre que um homem sonha
(esta coisa de ter de ser cuidadoso com a igualdade de géneros mata qualquer escrita, como veremos adiante)
e que sempre que uma mulher sonha
e que sempre que um(a) de outro género sonha
e que sempre etc., etc., etc., para conter todos os géneros que a estupidez (ia dizer imaginação, mas acho que é estupidez mesmo) humana consegue produzir,
e já me perdi, mas acho que ia no sonho de um homem, mulher, etc., dizendo que quando o Ser sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.
O sonho, aquele que nos mantém acordados para que o possamos recordar, porque o da noite, aquele que é fisiológico, não nos lembramos nunca e, se nos lembramos, é sempre de uma esquisitice atroz que o melhor mesmo é não recordar, mas aquele que faz com que avancemos pela vida dentro, é o alimento para o nosso querer diário.
Sonhamos com tanta coisa,
sonhamos com o amor,
sonhamos com a casa,
sonhamos com os filhos,
sonhamos com o carro,
sonhamos com a viagem,
sonhamos...
Mas depois vem aquela coisa chamada realidade.
Na realidade, a realidade não é mais do que a vida a nos dizer crua e directamente que os sonhos não passam disso mesmo e que, mesmo que alguns dos sonhos sejam possíveis tornarem-se realidade, nunca o são tal como os imaginámos quando os alimentámos, quando os regámos, quando os acarinhámos esperando vê-los crescer frondosos para alegria nossa, mesmo que futura.
Na realidade, a realidade é, por vezes (a maioria das vezes?), dura com os sonhos.
A realidade distorce as imagens que projectámos na tela da vida, transformando-as de acordo com a sua própria visão do que quer para a nossa realidade, apesar de haverem sonhos que se aproximam daquilo que a vida proporciona, dando-nos assim uma sensação, ilusória, de sonho cumprido. Esta emoção, esta sensação é o fermento que faz com que se volte a sonhar com outras possíveis realidades que, podem ou não, com maior ou menor ilusão, concretizar-se.
A realidade, na realidade, tem de ser aceite tal como se nos apresenta neste pasto chamado vida, que regamos com carinho e amor ao longo dos dias que se seguem um atrás do outro, inexoravelmente, com uma noite de permeio.
Aceitando a realidade tal como se apresenta, ficamos com mais tempo e disponibilidade para sonharmos e, quanto mais sonharmos mais possibilidade temos de que os sonhos possam, mesmo que com algum grau de ilusão, tornarem-se realidade.
São as voltas da vida.
A maior parte da minha realidade, se posso falar por mim, não esteve nos meus sonhos, mas aquilo que fui conseguindo ser e ter, e que muita satisfação me tem dado, foi a realidade a ultrapassar tudo o que poderia ter sonhado desde que me lembro de começar a sonhar.
A realidade encarregou-se de transformar sonhos noutra realidade, a qual fui aproveitando à medida que a realidade ia apresentando os seus projectos que muitas vezes nada tinham a ver com o que eu tinha projectado na inocência do sonho.
Um exemplo: nunca na minha vida sonhei em estar presente num Rally considerado o maior Rally do Mundo, muito menos sonhei em poder ser Comissário Desportivo de um Rally de renome mundial, muito menos ainda sonhei em ser Presidente do Colégio de Comissários Desportivos de um Rally como o Rally Dakar, mas a realidade encarregou-se, porque sabia a minha paixão pelo Desporto Automóvel, de me presentear com esta prenda que muito agradeço, e fê-lo por mais vezes do que eu poderia ter sonhado.
Aceitar a realidade mesmo que não sonhada é, talvez a melhor forma de alimentar o sonho, que quando é sonhado faz o mundo pular e avançar como bola colorida entre as mãos de uma criança.
Ainda vou a tempo de vos desejar um Feliz 2019!