Artigos

Há sempre um ponto final

Não aceitamos o fim. mas ele existe e está sempre lá para nos lembrar que somos apenas humanos

Caminhamos a uma velocidade estonteante, a um ritmo alucinante. A vida parece estar feita para nos colocar obstáculos, como um quebra cabeças criado pelos nosso opositores que nos vão estorvando a vista e dificultam a valorização das coisas boas do dia a dia. Estamos demasiado absorvidos pelos nossos problemas, pelas nossas lutas diárias e aos poucos vamos deixando aqueles que realmente importam para segundo plano, muitas vezes (a larga maioria delas) inconscientemente. O certo é que muitas vezes esquecemo-nos de valorizar os nossos, porque há uma dificuldade intrínseca em conceber o fim, o fim do problema, o fim do obstáculo, o fim de um projeto, o fim de um trabalho, o fim de uma carreira, o fim de uma relação, até do fim da nossa vida. Mesmo perante a morte nós tendemos a um incontrolável “até já”, vamos achando que há sempre mais qualquer coisa, afinal nunca merecemos o que nos acontece, somos sempre a nossa maior vítima. Talvez por essa razão, acabamos por não viver o pleno, por não darmos o melhor de nós, por não nos empenharmos, por não vivermos a vida como ela deve ser vivida, porque pensamos sempre que há mais, até para além da morte...então não aceitamos o fim, não colocamos o ponto final, mas ele existe e está sempre lá para nos lembrar que somos apenas humanos.

A grande felicidade é que num desses dias que marcam o nosso positivismo, chega aquele momento em que tudo muda, os objetivos, os interesses, as prioridades. Há pouco senti viver esse momento, saber que fui um felizardo, que vivi tudo no momento certo, as loucuras, a insensatez, as vitórias absolutas e até as derrotas. Hoje aceito o que a vida me dá, não peço mais, não quero mais, mas aceito tudo de olhos abertos para as oportunidades, mesmo em velocidade cruzeiro mas sem grandes acelerações. Agora, agradeço cada dia que vivo, o dia que vivi, os momentos que passo e os que passei e deito a cabeça sem mágoas e sem certezas, já na esperança de viver mais um. Hoje conquistei mais um objectivo, risquei mais um desejo, mas sem estar obcecado por fazê-lo e assim vivo mais, saboreio mais, reclamo menos, abraço mais. Agora, respiro fundo, sinto o ar puro, sem pressa, na certeza que tudo se resolve, que a vida é assim mesmo e que dá muitas voltas, e que em cada volta que a vida dá fica uma certeza, a que estamos vivos. Hoje foi bom e amanhã será melhor, mas senão for, teremos sempre o depois de amanhã e há que aproveitar enquanto acordamos, porque a vida é feita de muitas vírgulas mas há sempre o ponto final.