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Gosto muito de te ver, leãozinho

o tipo que os sportinguistas seguraram sob ameaça, está a levar para o fundo do poço atrás de si uma instituição secular

A música de Caetano Veloso não me sai da cabeça, desde que Bruno de Carvalho passou a ver o futebol português com três olhos. Curiosa como sou, fui atrás do currículo do homem que tem afiado as garras nas paredes do país, pois nem a casa da democracia lhe escapou.

Licenciado em Gestão e com Mestrado em Gestão do Desporto e de Organizações Desportivas, está explicada a sabedoria do homem para fazer as asneiras que fez nos últimos tempos. Renovar com Jesus terá sido a única jogada certeira de 2018, mas felizmente o campeonato está a acabar e podemos ter descanso nas televisões, nas rádios, nos jornais, nas redes sociais onde escreve e diz que não foi ele. Além disso, como vai ser pai, pode ser que goze o direito a ficar em casa e nos dê folga.

Caetano Veloso está a cantar “Gosto muito de te ver, leãozinho” no terceiro anel do Estádio da Luz, onde mais escândalo financeiro, menos escândalo financeiro, os suspeitos reagem com classe às acusações, param o carro para falar com a imprensa, continuam a ser recebidos como heróis imaculados. Nem se fala deles.

Por outro lado, o tipo que os sportinguistas seguraram sob ameaça, está a levar para o fundo do poço atrás de si uma instituição secular, com toda a sua história. Sabemos que jogou futebol, râguebi e luta livre, que tem o nível II de treinador de... futebol. Anda muito agarrado aos últimos dois e creio que concorre todos os dias para o título mundial desta última modalidade, da maneira que luta contra todos.

Mas foi na procura dos predicados do Bruno que me enrolei nas garras do bicho. Entendo que o homem queira ser à força o treinador do clube do seu coração e por isso percebi a vontade de leão com que entra nos balneários e briga com os jogadores, o treinador, o massagista, o roupeiro e as torneiras do duche. Bruno fez o curso de treinador de futebol de nível II, fazendo as 60 horas de componente geral, as 62 da modalidade escolhida para treinar, (pelo menos essa parte deve ter feito), mas não encontrei no mundo nem no submundo da internet qualquer referência às 800 horas de estágio, o equivalente, diz o Instituto do Desporto, a uma época desportiva. Afinal, esta pose de leão que morde todos (e até a própria cauda, quem sabe em busca do terceiro olho), não é mais do que o estágio curricular do homem a quem faltou a frequência das aulas de etiqueta e boas maneiras, regras de sã convivência e protocolo, porque o amuo do gatinho na Assembleia da República esta semana, quando deixou de falar precisamente sobre violência no desporto fez-me desejar que o avô, que escreveu a história do Sporting, não ressuscite como Jesus (o original e o outro) para assistir ao que o neto anda a fazer. Sportinguistas, enjaulem este leão enquanto é tempo.