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Falta de papel na Venezuela suspende publicação de mais de uma dezena de jornais

El Nacional, o mais crítico do regime de Maduro, interrompeu ciclo com 75 anos; Mais de 115 meios de comunicação social fecharam desde 2013

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O jornal El Nacional, um dos mais críticos do regime de Nicolas Maduro, suspendeu hoje a publicação da edição impressa, uma decisão sem precedentes que põe fim a 75 anos de circulação diária do matutino que se junta a mais de uma dezena de jornais que, na Venezuela, suspenderam as publicações devido à falta de papel no país, passando muitos deles a noticiar online.

Em entrevista ao jornal espanhol ‘ABC’, o editor do El Nacional, Miguel Henrique Otero, disse que o governo está impondo barreiras à importação, comercialização e abastecimento de papel, afectando aquele jornal diário venezuelano que foi fundado há 75 anos e que nos últimos 15 tem sofrido assédios e retaliações por parte do governo de Nicolas Maduro. Não obstante, tem conseguido resistir e manter o estatuto de “o último meio de comunicação social independente no país” a dar notícias em edição impressa. Até ao dia de hoje.

“No final, não conseguimos resistir”, lamentou, acusando uma empresa do governo que anteriormente oferecia preços modestos aos jornais, mas que agora “se retirou para sufocá-los”.

“O monstro de ferro laranja ia ser aceso pela última vez, os trabalhadores subiam e desciam as escadas de ferro, outros apenas observavam das janelas mais distantes com uma das mãos resistindo ao peso de seu rosto na frente do vidro que separa os escritórios da imprensa”, descreve o ambiente vivido ontem à noite no jornal. O momento em que as rotativas da máquina de impressão giraram pela última vez foi seguido pelas câmaras de vários meios de comunicação social que registaram aquele ‘virar de página’.

“Nos corredores consideram uma medida temporária, mas será marcada nas mentes e corações de todas as pessoas que contribuíram e ficaram noite após noite querendo expressar uma verdade, um testemunho, sendo a voz de 28 milhões de pessoas”, regista a jornalista Jackelin Díaz Lándalindz.

“Nas suas mentes, há apenas um pensamento fixo: um dia o jornal estará de volta às suas mãos, um dia as letras azuis voltarão para dentro dos quiosques em todo o território nacional e, acima de tudo, um dia com a manchete nacional: ‘Venezuela voltou à democracia’. Por enquanto nos vemos na web”, escreve a jornalista.

Desde 2013, mais de 115 meios de comunicação fecharam na Venezuela, principalmente devido à falta de papel e à não renovação de contratos com estações ou canais de televisão. Os meios de comunicação social que desligaram o sinal ou deixaram de ser impressos eram portais de informação que não respondiam às linhas de pensamento do governo.