Análise

Eleições a quanto obrigas e os pobres

Na República caiu por terra o mito de que o país só poderia ser governado por uma coligação que juntasse a ‘direita’

As medidas avançadas pelo Governo na proposta do Orçamento da Região para 2019 constituem o cumprimento de promessas, que surgem (coincidentemente) num ano repleto de eleições e decisivo para a cúpula do partido que manda há 40 anos, e que joga tudo na sua sobrevivência.

É típico dos governos lançarem medidas populares, que incidam sobre as áreas sociais, para daí retiraram proveito eleitoral. Sempre assim foi e, decerto, continuará a ser. A tentação é grande e manda mais o coração do que a razão, o que exaspera a oposição, que fica com menos trunfos na manga para seduzir a população que vota.

Temos assistido a um anunciar de compromissos, muito válidos, registe-se, no âmbito da fiscalidade e dos apoios sociais que não passa despercebido. O executivo vai baixar a taxa geral do IRC e também o das Pequenas e Médias Empresas. É um sinal com substância, ao contrário do que aconteceu no ano passado, onde a descida do imposto para as PME não chegava para contratar ‘meio colaborador’. Ao nível do IRS opera-se, também, mexidas interessantes para as famílias com menores rendimentos. Para não falar na questão dos passes sociais e dos manuais escolares.

Em 2019 o cenário muda de figura e os partidos da oposição já se viram obrigados a elogiar a decisão governativa de baixar a carga fiscal. Pedem mais, como é normal, mas contorcem-se por algumas das suas bandeiras estarem a ser utilizadas por quem decide, apesar de existirem ainda muitas frentes descuradas e problemas graves por resolver, da saúde à educação, não esquecendo o motor da economia regional, o turismo, onde efectivamente as coisas não andam bem.

Ainda falta muito ‘campeonato’ até Setembro do próximo ano, mas os partidos apressam-se e posicionam-se. O PS dá o tudo por tudo, guiando-se em torno da figura de Paulo Cafôfo, resguardada das questões mais polémicas que lhe possam beliscar a popularidade, mas precisa de arriscar mais e de trazer a terreiro figuras com provas dadas nas respectivas actividades.

Albuquerque luta pela sua sobrevivência política, mas poderá não ter as tropas unidas em seu redor. A ‘limpeza’ feita nos órgãos do partido e o regresso da ala jardinista ao poder distorce e esmorece o fulgor inicial da designada ‘renovação’. O pior das quatro décadas de poder absoluto não foi apagado em apenas quatro anos, muito menos alguns dos seus vícios dispensáveis. O PSD de Jardim ficou para a história como o responsável pela dívida colossal, que todos pagamos com ‘língua de palmo’.

O CDS posiciona-se à esquerda e à direita, podendo desempenhar um papel determinante no mais que provável jogo de equilíbrios que vai ter de existir após a noite eleitoral.

Na República, em 2015, caiu por terra o mito de que o país só poderia ser governado por uma coligação que juntasse a ‘direita’. Na Madeira é provável que se ensaie uma espécie de geringonça que pode depender do CDS, do JPP ou do PC e do BE unidos. Daqui até lá todos vão batalhar para protagonizarem a melhor escolha.

2. O Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Pobres. E acarinhou-o desde a primeira hora, fazendo jus à vertente misericordiosa que deve nortear a Igreja Católica. No dia 18 de Novembro as portas do Vaticano abriram-se e Francisco acolheu mais de três mil necessitados no imponente auditório Paulo VI, onde lhes ofereceu um almoço. O próprio, como é seu apanágio, participou, sentando-se no meio dos mais desfavorecidos. Naquele dia a Santa Sé providenciou, também, serviços médicos para quem não os pode pagar. Francisco foi igual a si próprio e foi ao encontro dos que se encontram à margem da sociedade. E por cá? Assinalou-se a data com uma eucaristia na Igreja do Colégio, e as esmolas desse domingo foram para os jovens seminaristas. Mais palavras para quê?