Estomaterapia - Do saber ao cuidar

Uma notícia de jornalismo light, a roçar no jornalismo “a protogonista sou eu”, pelo tamanho da fotografia da entrevistada, não pelo conteúdo, pobre, exíguo e populista, não deste matutino, mas do outro da Madeira, obriga-me eticamente a esclarecer o seguinte: Como enfermeira com formação avançada na área-estomaterapia, pela Universidade Pública de Navarra, Espanha, referência europeia de formação nesta área da saúde e envolvida no projeto institucional do SESARAM, desde 1998 (20 anos, Senhor leitor), grata à direção de enfermagem de então, na pessoa da Sra. Enf.ª Silva Dias, pessoa visionária, inteligente e com nobres valores, que confiou e lançou esta consulta, em resposta a uma grande lacuna nessa altura, pois só o IPO Lisboa, Porto e Coimbra a tinham. Passo a SISTEMATIZAR o que é, o que se faz e o que se pretende.

Vivemos numa sociedade onde o culto do corpo parece ser o mais importante e quando este é ameaçado por qualquer agressão externa, precisamos de ferramentas para fazer face à situação. No entanto, a verdade, a sensatez, a luz da mente, a beleza do espírito e a paz na alma, devem vigorar sempre.

A construção de uma ostomia de eliminação, urostomia/nefrostomia – urina, colostomia/ileostomia - fezes ou fistulas - outros fluídos corporais, implica na pessoa que a possui, um processo de transição do tipo saúde-doença, que deve ser alvo de uma atenção singular por parte do enfermeiro, aquando da sua atividade assistencial, concebendo cuidados individualizados e eficazes, no sentido da adaptação pessoal e aprendizagem de uma nova vivência, com uma ou mais por vezes, ostomia. Assim, a consulta é efetuada tanto no pré-operatório, pós-operatório e ambulatório pós-alta, às terças e quintas, das 8h./15h., no Hospital Dr. Nélio Mendonça, consulta externa, sala 16. É uma consulta interdisciplinar, onde outras especialidades médicas: oncológica, gástrica, radiológica e cirúrgica colo-retal e pediátrica, intervém uma vez que atua ao nível do ciclo vital do 0 - 102 anos. Más formações congénitas logo no início de vida, temos as tão afamadas DIIC, doenças inflamatórias intestinais crónicas que atingem o jovem, e no adulto por causas oncológicas ou não oncológicas, divertículos e ainda, as traumáticas em qualquer idade. Resultantes de acidentes de trabalho e/ou viação com lacerações abdominais e lombares graves.

No pré-operatório, além dos requisitos técnicos o mais importante é garantir o apoio que o doente vai receber no pós-operatório e após-alta hospitalar. Doente confiante e tranquilo corresponde a menos complicações, menos tempo de internamento = ganho em saúde.

No pós-operatório imediato, o despiste de toda e qualquer alteração, com vigilância e monitorização garante o sucesso do ato cirúrgico, assim como avaliação da funcionalidade e características do estoma = ganho em saúde.

Já em ambulatório, a validação da instrução e treino adquirido durante o internamento, é o principal propósito, mas muitos outros se aplicam. A articulação com os tratamentos complementares quimioterapia ou radioterapia, trás por vezes complicações, que precocemente detetadas é mais ganhos em saúde.

O ensino de outras técnicas é também realizado. A resolução e encaminhamento de problemas relacionado com a aquisição de dispositivos e acessórios para fazer face à sua nova condição é o verdadeiro desafio. No mercado existe uma grande variedade, que quando não são bem selecionados à partida, consubstancia problemas acrescidos.

Ao nível da formação, serve também como referência. Quer no âmbito do funcionamento, quer pela diversidade de experiências que proporciona a todos os profissionais de saúde, com quem se articula.

O nosso propósito, é que todo e qualquer doente, pleno dos seus direitos, sintam o acompanhamento do centro de saúde ao hospital e vice-versa. Assim como, de e para outras unidades de saúde, por profissionais competentes e de referência e que não sejam números estatísticos para consultas. Tenho dito.