Crónicas

TAP, tips e outras coisas

1. Disco: “The Now Now” pela mão do mítico Damon Albarn e dos seus fantásticos Gorillaz. Pop e letras fantásticas: ““I don’t want this isolation/See the state I’m in now?”, tanto serve como mensagem de um isolamento pessoal de Albarn ou como manifesto anti isolacionismo, como reacção ao Brexit.

2. Tenho da democracia a ideia de que nela cada um pode ser o que se propuser, desde que os outros o aceitem. Pode, sem dúvida, pelo menos tentar. As hipóteses de eu vir a ser Presidente da República terão de ser, à partida, as mesmas que Marcelo Rebelo de Sousa tem. Ou Cristiano Ronaldo. Vem isto a propósito da insinuação do nosso PR no encontro com Donald Trump, em Washington. Que o nosso “menino” não o conseguiria derrotar numas presidenciais porque Portugal não é a América. Ou seja, no país dos Trumps qualquer um pode ser eleito desde que vá a eleições e em Portugal isso não “pode” acontecer... Assim sendo, democraticamente, segundo Marcelo, a nossa democracia deixa muito a desejar.

3. Comemorou-se mais um dia da Região e, como sempre, com discursos demagogicamente apontados a madeirenses e porto-santenses. É urgente que deixemos de ser duas ilhas e passemos a ser um verdadeiro arquipélago. O mesmo em relação a cada um de nós: deixemos de ser ilha pois temos de criar ligações efectivas uns com os outros de modo a que nos reunamos em verdadeiros arquipélagos de afectos e solidariedade. Um pequeno/grande passo para que possamos ser efectivamente “das ilhas as mais belas e livres”!

4. A nomeação de Tolentino de Mendonça como arquivista e bibliotecário do Vaticano enche-nos de orgulho. Tive sempre a secreta esperança que Tolentino um dia viesse a ser Bispo do Funchal. Perco-a agora. Os voos que se lhe destinam serão muito mais altos. Mesmo muito mais altos.

5. RESPOSTA À IDIOPATIA QUE GRASSA NA CABEÇA DE ALGUNS E QUE ATRIBUI O MAU SERVIÇO DA TAP À LIBERALIZAÇÃO.

No contrato de venda da TAP consta o seguinte:

“A capacidade para assegurar o cumprimento, de forma pontual e adequada, das obrigações de serviço público que incumbam à TAP, incluindo no que concerne às ligações aéreas entre os principais aeroportos nacionais e das regiões autónomas, quando aplicável, bem como a continuidade e reforço das rotas que sirvam as regiões autónomas, a diáspora e os países e comunidades de expressão ou língua oficial portuguesa.”

É PRECISO DIZER MAIS ALGUMA COISA? UM DESENHO, TALVEZ...?

6. PJ e Ministério Público fizeram buscas a sedes de PS e do PSD. Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia ligadas a estes partidos bem como residências de titulares de órgãos públicos, são também alvo de buscas. Ainda na semana passada escrevi aqui, neste mesmo espaço, sobre o ESTADÃO criado por estes dois partidos que não são mais do que as duas faces da mesma moeda. Pois... a culpa é da “iniciativa privada”, essa bandida, e não do estado tentacular e corrupto.

7. O Sr. Vice-presidente do governo volta a ver uma decisão do Conselho de Governo ser considerada nula, por sua causa, por via da aplicação do Regime Jurídico de Incompatibilidades e Impedimentos dos Titulares de Cargos Políticos e Altos Cargos Públicos. Os intervenientes são, exactamente, os mesmos: a empresa para a qual trabalhava, a AFAVIAS, e a Tâmega. E depois ninguém vem explicar nada. Ninguém trata de tentar explicar o inexplicável. Esta promiscuidade é reveladora de quem não distingue os terrenos nebulosos dos interesses.

Há algum impedimento a que o percurso de Pedro Calado o tenha levado por onde levou? Nenhum! Não diz a lei que, em relação a certos assuntos e em determinadas circunstâncias, os políticos não devem participar pois essa participação enferma de incompatibilidade? Diz. Então que se aplique uma distância higiénica nesses assuntos.

8. Num dia, contra a Secretaria, contra o Secretário, contra umas “figuraças”, o meu amigo Joaquim José Sousa voltou a ganhar as eleições para a direcção da escola do Curral das Freiras, e com 78,3% dos votos. Sobre isso, dispenso-me de comentar pois o resultado fala por si e pelos desejos da comunidade escolar...

No dia seguinte chega a notícia de que esta escola vai ser agregada a uma de Santo António. Acaba-se com a autonomia da Escola do Curral. Centraliza-se o Curral das Freiras em Santo António, que nem no mesmo concelho fica, e isso deixa autarcas e políticos do laranjal satisfeitos.

Deixem então a banda passar toda contente, mesmo que deixe rabos-de-palha pendurados. É que, inexplicavelmente, o critério dos poucos alunos para fundir escolas aplica-se nuns casos e noutros não. Em São Jorge, por exemplo, há duas escolas: a EB1 que tem cerca de 60 alunos e a EB12 Cardeal D. Teodósio de Gouveia com 50. Pasme-se porque não foram fundidas. Porquê? Porque a Secretaria diz uma coisa e faz outra. Porque, como fica demonstrado, o critério não tem nada a ver com o número de alunos. O critério é o da politiquice, da baixeza, da vileza.

Se não podes derrotá-los? Extingue-os ou funde-os.

Como dizem os italianos: “se non è vero è... molto mal nascosto”.

9. Momento Nacional Geographic...

Deixem-me que lhes apresente: o “xupacus”. O “xupacus” é uma evolução do “lambecus”, esse ser de que todos conhecemos um exemplar. O “xupacus” é no entanto mais sôfrego. Tem uma inteligência básica que o leva a sugar tudo o que vê em volta. Enquanto o “lambecus” lambe com calma o dito cujo de quem quer ser lambido, o “xupacus” não deixa migalha ao acaso.

São brilhantes as ideias dos outros que o “xupacus” apresenta como suas. Com um ligeiro twist aqui e ali, fala grosso e consegue até fazer com que quem, originalmente, pensou a ideia se esqueça de que o fez.

O “xupacus” leu um livro e a partir daí passou a se considerar um verdadeiro “papa” da questão. Sabe tudo. Arrota conceitos e definições que tão bem decorou e com isso atordoa quem se lhe junta em volta.

Meia dúzia de nomes sonantes que cita, de quando em vez, dão-lhe estatuto. Somem-se, depois, uns quantos conhecimentos de coisas obscuras de que ouviu falar. Et le voilá, um “xupacus” belo e transbordante de ideias cresce, que nem um cogumelo, bem ao nosso lado. E como todos gostamos de cogumelos, nem lhe damos pela presença.

O “xupacus” não é de somenos. Não se perde em pormenor porque se acha de “por maior”. Para o “xupacus”, à sua volta só o deserto. No raio do alcance de um braço tudo é devorado pelo vórtice da sua sofreguidão.

E não se pense que nada produz. O “xupacus” produz muito. Coisas de difícil entendimento, é um facto. Mas, como o faz com a arrogância de um intelecto vazio, para outros que tais, na sua vacuidade mental, até passa por criar coisa da boa e que perdurará nos tempos.

Estes novos tempos não são meus nem são seus... são dos “xupacus”.

10. “Se o problema for eu, eu saio” - Joaquim José Sousa, director executivo eleito democraticamente da EB/123/PE do Curral das Freiras numa fantástica entrevista nestas páginas. Se este princípio fosse aplicado a tantos, mas tantos, que exercem cargos políticos...