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Os dias do Ambiente

Algo há-de ficar, pensa-se, mesmo sem saber o quê, quanto e em que sentido

A questão ambiental salta para a linha da frente da agenda por alturas do Dia Mundial do Ambiente, motivo, mais que justificado, para renovar a lembrança da importância da qualidade da água e do ar, da necessidade de melhorar a gestão e desempenho individual no que toca aos resíduos, da preservação da biodiversidade endémica e da paisagem e recordar a estreita ligação entre esses factores e a vida da espécie humana. Os dias do ambiente fazem-se com um pouco de tudo, em função dos actores, geografias e momentos que podem ser de motivação, constatação ou projecção. E diluem-se, estes dias do ambiente, pela semana do ambiente, aproveitando a janela de atenção e tempo de antena disponível passando a atenção, discretamente, para o assunto que se segue, seja a bola ou os santos populares, paradoxalmente, cheios de plástico, resíduos e ruído...

O que fica então desses dias do Ambiente? Sensibilização, informação e comunicação, sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, sem indicadores de efectividade. Algo há-de ficar, pensa-se, mesmo sem saber o quê, quanto e em que sentido. Não sendo fácil, dada a difusão temática e a dimensão transversal e intersectorial do tema ambiente, talvez fosse importante procurar consensualizar, de tempos em tempos, o que é essa coisa e como se poderia, de forma integrada, clara e consistente, comunicar o estado e as tendências da qualidade ambiental. É isso que fazem os clássicos Relatórios do Estado do Ambiente, que reúnem informação (ou a indicação da falta dela) sobre os principais descritores ambientais, disponibilizando-a de um modo que permite perceber a situação e a pressão para cada descritor ambiental no momento, a sua história recente e as tendências imediatas e futuras. Isto permite, para além de uma comunicação integrada, clara e suportada com dados reais, uma análise individual de cada situação ou sector e a precepção do que falta fazer, do bem que se fez ou da necessidade de melhoria, seja nas infraestruturas, na gestão ou na própria comunicação. Todos os sectores publicam, de forma integrada, os resultados da sua “performance” e um relatório do Estado do Ambiente na Madeira permitiria não só disponibilizar informação organizada de apoio aos processos de tomada de decisão como ainda a identificação de prioridades e atenções específicas que facilitariam, por sua vez, a atenção e mobilização social face às mesmas. Os dias do ambiente seriam menos difusos, sem perder a diversidade temática e certamente constituiriam efectivos momentos de avaliação da prestação comum, dos cidadãos, das organizações públicas ou privadas face a algo que os une: a qualidade de vida e a dependência dessa qualidade de vida da dimensão ambiental. Abriria ainda as portas para um observatório permanente, de múltiplo interesse e utilidade, seja para decisores públicos seja para investidores, investigadores, estudantes ou mesmo cidadãos individuais que encontrariam nesse “espaço” a oportunidade de estender os dias do ambiente para além do tradicional e escasso momento que lhe é dado em inícios de Junho. Teríamos seguramente mais dias do ambiente.