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2018 e a defesa do Património Cultural

Por outro lado, e para além do que é passado e presente e que devemos preservar, o Património Cultural é também futuro ...

Não podia começar este artigo sem antes desejar aos leitores do DN bem como a todos quantos o fazem, todos os dias, um Feliz Ano Novo de 2018, votos estes extensivos, naturalmente, a todas as Vossas famílias.

Entre muitas das promessas e vontades expressas na noite de ontem, momento em que parece não haver quem não faça juras a si próprio e (por vezes) a terceiros sobre o que irá mudar no ano que amanhece, gostaria de aqui deixar, numa perspectiva mais colectiva, aquele que é um grande desejo pessoal.

Tendo 2018 sido definido, pela União Europeia, como o Ano Europeu do Património Cultural, acredito que este pode constituir-se, também e afortunadamente por coincidir com comemorações do 6º Centenário do Achamento da Madeira, como um dos temas centrais à atividade de todas as instituições da Região, tenham estas as características e estatuto que tiverem.

Vale isto por dizer que acredito que todas elas têm condições para colocar o tema no cerne dos seus objectivos para o ano que ora começa, seja sob a forma de sensibilização, salvaguarda, promoção, ou mesmo investimento, isto considerando que no plano económico também se reconhece, hoje, o retorno que aquele propicia a vários níveis e muito em particular, relembra-se, em regiões cuja atividade determinante é o turismo.

Mas o envolvimento neste projeto, tão mais importante quanto o Património Cultural não se esgota nos tangíveis mas assume, cada vez mais, as dimensões imateriais, passa também muito (imenso, como diria o meu neto de 4 anos) pela participação de todos e cada um de nós no processo, através dos muitos e diversificados modos que existem ao dispor de todos ou que possamos criar.

Este desafio, lembro, é ainda mais pertinente quanto o Património Cultural, nas suas inúmeras formas, é, em especial num mundo que sente, cada vez mais, os efeitos da globalização, o que, verdadeiramente e pela positiva, nos diferencia (de terceiros) e nos aproxima (uns dos outros), qual “consciência colectiva”, como lhe chamava Durkheim, que realiza a unidade e a coesão de uma sociedade.

Por outro lado, e para além do que é passado e presente e que devemos preservar, o Património Cultural é também futuro ... porque é riqueza, sendo mesmo considerado, nalguns casos, o “ouro” de muitas comunidades.

Importaria, neste específico, alvitrar que é também assim por não ser entendido, em algumas das suas dimensões, como imutável... antes substrato criativo que se pode, porventura, aqui e além e com alguma parcimónia, recontextualizar, reconstruindo-o, atento em particular o mundo digitalizado em que vivemos.

Finalmente, não nos esqueçamos que o Património Cultural, ou a Cultura em sentido lato, é, segundo von Pufendorf (citado por António Damásio no seu excelente e recomendável livro “A Estranha Ordem das Coisas”), o meio através do qual vencemos o barbarismo original e nos tornamos completamente humanos, pelo que o perigo maior de não nos envolvermos na defesa do mesmo é, precisamente, o de estarmos a contribuir para a destruição da nossa própria Humanidade, como, infelizmente, a História o demonstra com muitos e maus exemplos.

Termino, reiterando os desejos de um excelente ano de 2018, durante o qual e ao abrigo deste desafio da Europa, se apela a todos os Madeirenses para que acentuem, nestes 365 dias, a luta, a defesa e a exaltação do que é nosso, não só por esse ser o único meio de nos afirmarmos, como de se poder fazer o contraponto às posições hegemónicas e dominantes que alguns nos querem impor.