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Comissão Europeia homenageou jornalista maltesa assassinada

FOTO Reuters
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A Comissão Europeia homenageou hoje, um ano após a sua morte, a jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia, assumindo-se “firme na protecção da liberdade de expressão”, e enaltecendo o papel dos jornalistas na defesa da democracia.

“Faz hoje um ano que Daphne Caruana Galizia foi assassinada. Homenageamos hoje o trabalho árduo e implacável de Daphne, de Jan Kuciak e de muitos outros jornalistas que sacrificam tudo -- por vezes até a própria vida -- pela verdade. É também uma oportunidade para nós, a Europa, fazermos uma pausa para reflectirmos sobre algo que nos é querido: a nossa liberdade de expressão”, lê-se no comunicado do executivo comunitário.

No texto, assinado pelo vice-presidente Frans Timmermans e pelas comissárias Vera Jourová (Justiça) e Mariya Gabriel (Economia e Sociedade Digitais), a Comissão Europeia afirma manter-se “firme na protecção da liberdade de expressão e dos meios de comunicação livres”.

“A democracia não pode sobreviver se os jornalistas já não puderem comunicar livremente, se estiverem sujeitos à censura, se forem impedidos de criticar os poderes instalados e, em especial, se forem intimidados, assediados, ameaçados ou até mesmo mortos por fazerem o seu trabalho. A democracia assenta e depende do trabalho deles”, sublinha.

O executivo comunitário defende ainda a necessidade de pensar nos denunciantes, “muitas vezes a fonte do jornalismo de investigação e que também necessitam de protecção”, assegurando que podem contar com a instituição para garantir a sua segurança, sem os decepcionar.

“Não queremos que estes assassínios tenham um efeito dissuasor sobre os meios de comunicação livres. Os cidadãos devem poder formar as suas próprias opiniões com base em investigações credíveis e numa comunicação independente. É por isso que os responsáveis pelos assassínios têm de ser levados à justiça. Queremos a verdade completa. Temos de enviar um sinal claro a todos os jornalistas: é seguro trabalhar na Europa”, vinca a nota.

Para Bruxelas, se os jornalistas forem silenciados, o mesmo acontece com a democracia. “Tal não acontecerá na Europa. Vamos manter-nos vigilantes”, conclui o comunicado.

Daphne Caruana Galizia, que participou na investigação jornalística que ficou conhecida como “Papéis do Panamá” em Malta, morreu em 16 de Outubro de 2017, quando uma bomba explodiu no seu carro, dias depois de ter denunciado estar a receber ameaças de morte.

A jornalista, de 53 anos, também tinha um blogue onde denunciava líderes políticos. Uma das suas mais recentes investigações visava o primeiro-ministro de Malta, o trabalhista Joseph Muscat, e alguns dos seus assessores mais próximos.

Também a eurodeputada socialista Ana Gomes, que está hoje em Malta para se associar às homenagens feitas pela sociedade civil a Daphne Caruana Galizia, aproveitou a ocasião para instar o Partido Socialista Europeu (PSE) a afastar-se do primeiro-ministro maltês.

“O Governo de Joseph Muscat diz-se Labour (trabalhista/socialista). Eu não vejo nada, porém, de socialista ou social-democrata nos contratos corruptos e opacos que o seu governo celebrou e que Daphne Caruana Galizia investigou e denunciou. Nem vejo nada de socialista nas repetidas e escandalosas obstruções a uma investigação séria e independente ao assassinato da jornalista”, sustenta.

Em comunicado, Ana Gomes diz não entender como pode corresponder a qualquer orientação socialista a manutenção no governo de Malta, até hoje, “de corruptos, branqueadores de capitais e evasores fiscais como Keith Schembri e Konrad Mizzi, respectivamente, chefe de gabinete e Ministro de Joseph Muscat, depois de expostos através dos Panama Papers”.

“É tempo de os verdadeiros socialistas e sociais democratas no PSE se distanciarem do governo de Joseph Muscat que ostensivamente dá mau nome à sua família política”, insta.