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Chineses detidos em Luanda por tráfico e comercialização de tartarugas marinhas

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A polícia angolana e o Ministério do Ambiente anunciaram hoje a detenção, em Luanda, de três cidadãos chineses implicados num alegado esquema de tráfico e comercialização de tartarugas marinhas, protegidas por convenções internacionais ratificadas por Angola.

Nesta operação, nos arredores de Luanda, foram recuperadas duas tartarugas de grandes dimensões que, de acordo com José Rodrigues, técnico do Ministério do Ambiente, estavam a ser comercializadas, cada uma, por 200.000 kwanzas (890 euros).

O responsável explicou que a retenção destas tartarugas é proibida por lei, sendo os chineses suspeitos ainda de um crime de associação de malfeitores e de terem em funcionamento um laboratório utilizado para acelerar o crescimento de animais em cativeiro.

Às autoridades, os cidadãos chineses alegaram desconhecer a proibição de captura e retenção destas tartarugas e que as mesmas se destinavam a consumo próprio.

A Lusa noticiou em 2016 que a tartaruga de couro, considerada a mais rara do mundo, que chega a pesar 900 quilogramas, está em risco de desaparecer de Angola, enfrentando actualmente uma situação “caótica” de ameaça com um reduzido número de desovas.

O alerta foi então transmitido por Miguel Morais, coordenador do projecto “Kitabanga” (tartaruga gigante na língua nacional quimbundo), que estuda e investiga os cinco tipos de tartarugas marinhas presentes ao longo da costa angolana.

O projeto “Kitabanga”, nome pelo qual é conhecida em Angola a tartaruga de couro, acompanha a desova de outras duas espécies ao longo da costa, a tartaruga verde (quase 1,25 metros de comprimento e 230 quilogramas) e a tartaruga oliva, com sete estações de amostragem permanentes distribuídas entre as províncias do Zaire, Bengo, Luanda, Benguela e Namibe.

“Angola está entre as praias com alguma densidade de desova para a tartaruga de couro, mas temos verificado uma diminuição considerável ao longo do tempo. Para dar um exemplo, nos pontos de amostragem tivemos no ano passado oito animais e este ano apenas um. Antes tínhamos cerca de 100 por ano”, explicou o especialista e coordenador daquele projecto de conservação, da Universidade Agostinho Neto.

A desova desta espécie de tartaruga, que chega aos dois metros de comprimento e que está “criticamente ameaçada” em Angola, acontece por norma entre outubro a março, colocando em média 80 ovos na praia.

Além disso, os especialistas deste projecto acompanham a situação da tartaruga de oliva, que chega aos 72 centímetros e 45 quilogramas, cujas praias de Angola são as principais para desova na costa ocidental de África.

Também neste caso está seriamente ameaçada.

“De uma forma geral, a situação das tartarugas em Angola não é saudável. Assiste-se a uma pressão muito grande, não só por predação directa, do ponto de vista antrópico, mas também por efeito dos impactos indirectos associados à pesca”, sustentou Miguel Morais.

“A quantidade de animais que todos os anos é morta ou morre acidentalmente é um pouco assustadora, face à reprodução durante os períodos de desovas”, assinalou ainda o especialista, do departamento de biologia daquela universidade de Luanda.

As tartarugas de pente (quase um metro e 80 quilogramas) e cabeçuda (1,20 metros e 200 quilogramas), que se alimentam em Angola, são igualmente acompanhadas pelos técnicos e estações do projecto “Kitabanga”, numa área de actuação directa de 55,5 quilómetros de praias protegidas, 3,4% da costa angolana.