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Animais sexualmente mais competitivos resistem melhor às alterações climáticas

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Espécies animais que competem intensamente por parceiros podem ser mais resistentes aos efeitos das alterações climáticas, indica um estudo da Universidade Queen Mary, de Londres, ontem divulgado.

Os investigadores expuseram mariposas a aumentos de temperatura e descobriram que punham mais ovos e sobreviviam mais filhos quando a população tinha mais machos (três machos por uma fêmea) competindo por oportunidades de acasalamento.

O estudo, publicado na revista “Proceedings of the Royal Society B”, sugere que a selecção sexual pode ser uma defesa contra as alterações climáticas e aumentar as taxas de adaptação a um ambiente em mudança.

Um outro estudo também sobre a selecção sexual, publicado na revista Nature, sugere, ao contrário, que as espécies que investem muito na reprodução poderão extinguir-se mais rapidamente. O estudo, que analisou pequenos fósseis de crustáceos, concluiu que dedicar muita energia na competição por parceiros pode comprometer a resistência das espécies às mudanças e aumentar o risco de extinção.

Uma ideia diferente, nas palavras de Jon Parrett, da Universidade Queen Mary: “Descobrimos que as mariposas tinham maior probabilidade de sucesso em ambientes de stress de aumentos de temperatura quando havia mais machos competindo por oportunidades de acasalamento”.

Porque, justificou o primeiro autor do estudo, os machos que estavam melhor adaptados ao novo ambiente eram mais propensos a acasalar. “E esses pais ‘bem sucedidos’ passaram os seus bons genes para os descendentes, auxiliando a sobrevivência no novo ambiente”.

O objectivo do estudo, disse o investigador, foi entender como é que populações de animais responderão a ambientes de mudança, sendo o primeiro a observar como a selecção sexual afecta a capacidade de uma população animal em responder ao aumento gradual da temperatura.

Para o estudo foram criadas várias populações de traças, umas com três machos por cada fêmea e outras com um macho por cada três fêmeas. Os investigadores aumentaram depois a temperatura em todas as populações.

À medida que as temperaturas aumentaram foram observados declínios no número de ovos produzidos por cada fêmea e na sobrevivência dos filhos até à idade adulta. No entanto as populações com mais machos resistiram melhor ao aumento da temperatura.

Os investigadores ampliaram depois o estudo, comparando as fêmeas que podiam escolher o parceiro com as fêmeas que só tinham uma opção de macho para acasalar. E descobriram que quando as fêmeas podiam escolher também depositavam mais ovos e havia uma maior sobrevivência dos filhos face aos aumentos de temperatura.

Os autores do estudo alertam, no entanto, que os efeitos positivos da selecção sexual podem não ser suficientes para proteger as populações e atrasar a extinção perante alterações ambientais relativamente mais rápidas.

Ao contrário do que concluíram os autores do estudo de sentido contrário, de responsabilidade de cientistas e colaboradores do Museu Nacional de História Natural (do Instituto Smithsonian, em Washington), que não se podia extrapolar resultados, os autores do presentes estudo disseram que as conclusões são aplicáveis a muitas espécies.

Rob Knell, outro dos autores do estudo, lembrou que há muitos animais que competem intensamente pelo acasalamento, como os veados, os pavões ou os grilos, e concluiu: “os nossos resultados indicam que esses sistemas de acasalamento competitivo podem desempenhar um papel importante na resposta a novos ambientes, com as espécies com menos competição por parceiros a terem mais dificuldade em se adaptar a novas condições.