Madeira

Cortejo da Flor decorado por um dos primeiros homens a trabalhar em arte floral na Madeira

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A viatura que abre o Cortejo Alegórico da Flor, domingo, no Funchal, ostenta há 34 anos o nome do seu decorador, João Egídio, um dos primeiros homens a trabalhar com arte floral pública na Madeira.

“Para fazer isto, vou buscar inspiração à minha vida, à Madeira, que é bonita, às viagens, às pessoas, vou buscar inspiração a tudo o que é belo e aos momentos mais felizes da minha vida”, disse à agência Lusa, lembrando que se dedica a esta actividade há cerca de quatro décadas.

João Egídio tem 60 anos e é responsável pela decoração de praticamente todas as iniciativas de promoção turística da Região Autónoma da Madeira, bem como das festas de promoção de produtos regionais organizadas pela Secretária Regional da Agricultura, à qual está profissionalmente vinculado.

Este ano, na Festa da Flor - o maior cartaz turístico do arquipélago - é autor não apenas do carro de abertura do cortejo alegórico, como também do pavilhão de exposições instalado na Praça do Povo, na capital madeirense, que reúne flores de mais de cinquenta produtores.

“O meu papel é a decoração e a distribuição das flores no pavilhão e a decoração do carro”, explicou, realçando que a temática incide sobre as comemorações dos 600 anos da descoberta da Madeira e do Porto Santo, que se assinalam em 2019.

No caso do pavilhão, o destaque vai para uma caravela estilizada com as flores que a região mais produz actualmente, o mesmo acontecendo com a viatura de abertura do cortejo, designada “600 Primaveras”, onde se destacam as flores mais conhecidas e mais exportadas, numa enorme profusão de cores.

“Os meus trabalhos foram e continuam a ser conhecidos por combinarem a arte floral com os elementos etnográficos, onde uso o tecido regional, o bordado Madeira e tudo o que diz respeito à etnografia”, conta, vincando que foi uma das primeiras pessoas a utilizar este método na região.

João Egídio é natural de São Jorge, freguesia do concelho de Santana, no norte da ilha, um local onde a ligação à terra e às tradições continua bastante evidente e isso marcou-o como pessoa e como artista.

“Aos 14 anos vim viver para o Funchal e então tornei-me um homem mais urbano, embora tenha sempre as minhas raízes no meio rural e com orgulho”, disse.

Ao cabo de quarenta anos de actividade, João Egídio diz que é um homem “realizado e reconhecido” no campo da arte floral, dentro e fora da ilha, sendo que este ano será responsável pela decoração de cinco viaturas que vão integrar um cortejo em Free State, na África do Sul, num evento inspirado na Festa da Flor da Madeira.

“Eu fui pioneiro como homem a trabalhar publicamente com flores na Madeira”, recorda, contando que, há quarenta anos, esta era uma actividade de mulheres e os homens nela envolvidos eram considerados efeminados.

João Egídio orgulha-se de ter “rompido com este tabu” e afirma que continua a trabalhar com flores sem vergonha.

“Agora estou-me marimbando, mas na altura não era fácil passar na rua com um grande ramo de flores, no meio na cidade, para ir fazer um trabalho, pois ouvia muitas bocas”, conta, realçando que, ainda por cima, a sua maneira de vestir sempre foi “muito colorida”, o que chamava mais a atenção.