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Viagem pelos últimos 160 anos de arte portuguesa no Museu do Chiado

Foto Lusa
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Uma viagem pelos últimos 160 anos de arte portuguesa, através de artistas e obras pouco mostradas, algumas inéditas, marca a coleção inaugurada hoje no Museu do Chiado, em Lisboa, e está patente até 31 de março de 2019.

A exposição “Arte Portuguesa. Razões e Emoções”, composta por pintura, desenho, gravura, escultura, fotografia e vídeo, está dividida em sete núcleos e parte de meados do século XIX, com o retrato e a paisagem romântica e naturalista, e viaja até à década de 2010.

“Há um preconceito em relação ao nosso século XIX, quando se compara com o francês, mas os artistas portugueses criaram os seus próprios caminhos e é isso que nos interessa contar: as propostas dos artistas, a relação com outros artistas e o que criaram a partir dessa relação”, explicou Emília Ferreira, diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea Chiado (MNAC).

Assim, “Espelho de almas” abre a exposição, incidindo sobre o retrato, um tema oitocentista, com obras de artistas como Columbano Bordalo Pinheiro, António Ramalho, Constantino Fernandes ou Veloso Salgado, estes dois com obras inéditas, nomeadamente um retrato do pai do artista, do primeiro, e o retrato de um japonês, do segundo.

Columbano Bordalo Pinheiro tem uma parede totalmente dedicada a obras da sua autoria, retratos de escritores, poetas e atores que conviviam em espaços de cafés e tertúlias, explicaram as curadoras Maria de Aires Silveira e Emília Ferreira.

Os artistas retratavam algumas das figuras mais significativas da viragem do século, conseguindo desse modo mostrar também o ambiente social, económico e político da época.

Do retrato passa-se para a natureza e para o teatro, como encenação do mundo, num núcleo que começa com escultura e com uma obra nunca exposta de António Manuel da Fonseca, “artista caído em desgraça”, que se assumiu contra o meio académico, segundo as curadoras.

“O desterrado” -- de António Soares dos Reis --, que surge em destaque, “é uma das esculturas mais fundamentais do século XIX, aqui apresentada em gesso” (a obra final, em mármore, pertence ao acervo do Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto), explicou Maria de Aires Silveira.

A ligação ao teatro está igualmente muito presente na arte, reflexo da “sedução da modernidade do século XIX”, patente no primeiro quadro desta galeria, uma maquete de cenário para teatro, em aguarela, representando uma cena da peça “Otelo”, de Shakespeare.

As curadoras destacaram também o espontâneo e inédito estudo de Egas Moniz, por Miguel-Ângelo Lupi, retratista das burguesias, a traço e carvão, ou o álbum de aguarelas pintadas por D. Carlos de Bragança, para oferecer a D. Amélia.

José de Brito regista, num quadro a óleo de grandes dimensões, o impacto da crítica social e religiosa: “Mártir do Fanatismo” é uma cena de História, uma mulher a ser vítima de torturas da inquisição.

Com o terceiro núcleo, entra-se no modernismo com alguns artistas como Sousa Lopes, Bernardo Marques, António Soares, Abel Manta, Eduardo Viana ou Mário Eloy, que introduzem a estética futurista.

No núcleo seguinte, Almada Negreiros é o pintor em destaque, que, para libertar a pátria portuguesa do espírito da saudade, contrapõe a irreverência, servida por um rigoroso e fluído desenho de observação, em quadros como “A Leitura”, “A Sesta”, “Acrobatas e Arlequins”, “Bailarna” ou “Interior”, todos de meados do século XX.

Com o final da II Guerra Mundial surgem os novos movimentos artísticos, como o abstracionismo, o neo-realismo e o surrealismo, aqui representados em quadros de Fernando Lanhas, Tereza de Arriaga, António Dacosta, Vespeira, Mário Cesariny, Jorge Vieira -- com colagens surreais muito pouco conhecidas - ou Alexandre O’Neill.

“Linguagens e experimentação” é o tema para os movimentos artísticos das décadas de 1960 a 1980, nascidos da urgência de mudança ditada pela Guerra Colonial e renovados com a revolução de 1974, em que os artistas cruzavam já as artes plásticas com a cenografia, o filme ou o texto, fruto também da sua experiencia em temporadas que passavam em paris, Londres e Berlim, com o apoio de bolsas da Gulbenkian.

Artistas como Paula Rego, Lourdes Castro, João Vieira, Ana Hatherly, Eduardo Nery José Escada, António Sena, Jorge Pinheiro e Jorge Martins são alguns dos artistas representativos destes movimentos.

A fechar a coleção, os pós-modernistas abrem caminho a diversos conceitos, entre eles a auto-reflexividade e identidade, distopia da arquitetura modernista ou crítica da paisagem, em que a fotografia era usada de forma experimental, a paisagem não é ficcionada, mas alvo de um olhar documental, e as obras arquitetónicas modernas são alvo de crítica.

Julião Sarmento, Fernando Calhau, Victor Pomar, Nuno Cera, Paulo Catrica e Francisco Tropa são alguns dos artistas representados neste último núcleo da exposição.