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Em tempo de pandemia

A falta de enfermeiros não garante a necessária segurança e qualidade dos cuidados

O tempo de pandemia que estamos a atravessar torna tudo diferente num contexto de incerteza, o surgimento de novas variantes independentemente do local de origem e do seu grau de infecciosidade, obriga-nos individual e coletivamente a adotar medidas e alterar comportamentos, num permanente estado de vigília que não podemos negligenciar. O aumento da doença Covid19 causada pelo coronavírus tem originado casos clínicos com consequências muitas vezes fatais, exigindo uma constante alocação de recursos assim como uma rápida adaptação dos serviços e dos profissionais, provocando alteração de horários e procedimentos, reorganização de equipas e protocolos, modificação de rotinas de forma a dar resposta a uma situação de emergência com profundas implicações na conciliação da atividade profissional com a vida familiar dos profissionais.Perante a situação epidemiológica em que nos encontramos desde março de 2020, o desempenho dos trabalhadores do setor da saúde tem sido exemplar, conforme demonstra a capacidade de resposta que tem dado aos vários níveis de intervenção e organização dos serviços de saúde.No atual quadro, temos de ter em consideração outros fatores imprevisíveis que naturalmente estão a emergir nesta época do ano, tais como os problemas respiratórios especialmente na população idosa onde predomina um elevado nível de dependência, doenças crónicas e outras comorbilidades sobrecarregando o internamento hospitalar. Esta realidade exige um maior volume de respostas em cuidados de saúde, nomeadamente cuidados de enfermagem, numa população em que 21 % dos cidadãos tem mais de 65 anos de idade e destes 53% são portadores de doenças crónicas. A falta de enfermeiros não garante a necessária segurança e qualidade dos cuidados, conduz à sobrecarga física e psíquica dos profissionais que se mantêm nos serviços, origina o prolongamento das jornadas diárias de trabalho, assim como a ausência de tempos de repouso adequados entre turnos aumentando as condições de risco e penosidade inerentes à profissão, impedindo o gozo de elementares direitos laborais.Continua a haver falta de enfermeiros no serviço público de saúde, apesar do reconhecido esforço na admissão de profissionais materializado ao longo dos últimos anos as novas admissões apenas repuseram as carências em alguns serviços. Atualmente aponta-se para aproximadamente uma falta de três centenas de enfermeiros no SESARAM, num contexto em que as necessidades em cuidados de saúde vão continuar a aumentar, pelo que se torna imprescindível continuar a reforçar o Serviço Regional de Saúde em tempo útil de modo a garantir os melhores cuidados de saúde à população.