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Ciganos querem conquistar lugar na política e estão a formar-se para isso

Foto Shutterstock
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O vice-presidente da associação cigana Letras Nómadas acredita que dentro de uma década vão aparecer os primeiros jovens políticos ciganos, seja nas autarquias, poder central ou no Parlamento Europeu e criticou os partidos por não incluírem esta comunidade.

Entre os dias 16 e 18 de novembro, na Figueira da Foz, decorre a terceira academia de política cigana, uma iniciativa dentro do programa ROMED, do Conselho da Europa, espalhada por vários países europeus e que em Portugal arrancou em dezembro de 2017 com a realização da primeira academia, à qual se seguiu outra em abril deste ano.

Em declarações à agência Lusa, o vice-presidente da associação Letras Nómadas, que em Portugal é responsável pela implementação do programa ROMED, disse acreditar que no prazo de dez anos vai ver um político cigano, seja onde for.

“Acredito que estamos a formar jovens e numa década podemos ter os primeiros [políticos] ciganos, seja nas autarquias, seja nas juntas, seja nos órgãos centrais, no parlamento ou no Parlamento Europeu”, disse Bruno Gonçalves.

Por outro lado, criticou os “grandes partidos” por não mostrarem abertura para a inclusão de pessoas ciganas nas suas listas, apontando que só o Bloco de Esquerda tem vindo a fazer alguns convites.

Sublinhou, nessa matéria, que os ciganos não querem ser usados como “fantoches” pelos partidos, sendo “manipulados” pela questão das minorias.

“Queremos de facto ser considerados mais uns que estão na luta para melhorar o país, a sua localidade, e é nisto que acreditamos”, defendeu.

Explicou que é por isso que estas academias de política são importantes, já que estão a formar jovens ciganos para também eles darem o seu contributo político, seja a nível local, central ou europeu.

Bruno Gonçalves adiantou que as academias de política são constituídas por cerca de 30 pessoas ciganas, vindas de norte a sul do país, desde estudantes universitários do programa Opré Chavalé, a ativistas ou membros de associações.

Destacou que tiveram em conta a questão da paridade e que as mulheres ciganas têm vindo a participar cada vez mais, apontando que nos últimos cinco a seis anos elas “têm sido uma lufada de ar fresco porque trazem muita organização e muito foco”.

“Estamos a trabalhar em oito municípios, onde temos como principal objetivo estimular a participação ativa das comunidades ciganas junto das entidades locais”, adiantou, acrescentando que há uma grande falta de perceção política dentro do movimento associativista e do dirigismo cigano.

Defendeu, por isso, que só como uma iniciativa deste género, constituindo academias, é possível ajudar os ciganos a ganharem competências para um dia mais tarde poderem fazer parte de partidos políticos, por exemplo, desenvolvendo as suas atividades políticas e os seus ideais políticos.

“É um processo recente, mas muito gratificante, onde temos vindo a aprender bastante porque desconhecíamos muitas das vezes como é que as coisas funcionam a nível central ou a nível local”, apontou.

A primeira edição das academias termina este ano, mas Bruno Gonçalves disse acreditar que o Conselho da Europa vá financiar uma nova edição, já em 2019, estando agendado um encontro, em Lisboa, em novembro, de todos os países onde este programa foi implementado para avaliar resultados e ponderar uma possível continuação.

Como resultado destas academias, Bruno Gonçalves gostava de ver pessoas ciganas mais ativas politicamente, mas sobretudo pessoas mais conscientes e com maior perceção política para se poderem defender melhor.

“Acima de tudo gostaria de ver jovens a ingressar no debate político e a serem convidados para movimentos políticos ou a estarem em alguns partidos, o que não tem vindo a acontecer”, criticou.

Lembrou os poucos casos de políticos com origens ciganas, desde um membro eleito para a Assembleia de Freguesia da Figueira da Foz, à deputada socialista Idália Serrão, que tinha um avô cigano, ou ao secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel.