Crónicas

O que as pessoas querem saber

Estamos saturados de ser usados só em época de eleições e depois encostados a um canto sem que alguém queira de nós saber

As pessoas estão fartas de serem exploradas e gozadas. A verdade é essa. Isso vai-se demonstrando nas eleições com os valores da abstenção mas também nos crescentes fenómenos populistas que vão surgindo e que rapidamente se transformam em casos de sucesso junto de uma sociedade cada vez mais descrente e sedenta de um discurso novo. Já ninguém quer saber do politicamente correto, esse discurso bafiento e sem ponta de credibilidade dá-nos vontade de vomitar cada vez que alguém se usa dele. Uma espécie de nem é carne nem é peixe que se usava do equilíbrio, da estabilidade e da segurança para fazer sucesso mas que nos mostra dia após dia exemplos de quem o proclama a fazer exatamente o seu contrário. É por isso que já não vamos em cantigas e que estamos saturados de ser usados só em época de eleições e depois encostados a um canto sem que alguém queira de nós saber.

Por trás de vetustas definições de esquerda e de direita, de promessas e ilusões que passam a mentiras e desilusões conforme trocam a oposição pelo poder vamos percebendo que na realidade, as posições e os cargos vão mudando muito mais as pessoas do que estas mudam os cargos e as posições que acabam por ocupar. Isso torna tudo igual e faz com que campanhas eleitorais nos façam sentir náuseas e uma sensação de “déjà vu”. Mais do mesmo.Uma história repetida que já não nos convence. Este sistema político está por isso acabado, sobretudo porque nós deixámos de acreditar nele e já desistimos há muito. Enquanto antigamente era mais lógico e fácil de perceber as diferenças entre a direita e a esquerda nos tempos que correm é recorrente vermos um emaranhado complexo de conteúdos que se misturam e se fundem fazendo com que a mensagem seja praticamente a mesma mas com exemplos diferentes.

Aprendemos a explicar a esquerda com diversas vertentes ideológicas mas assentes em bases muito claras que exaltam a igualdade como o bem mais precioso. A igualdade entre ricos e pobres com o objectivo de se tornarem todos iguais, o interesse coletivo acima do interesse individual, uma sociedade progressista a precisar constantemente de ser melhorada onde o Estado deve assumir um papel de relevo como instrumento para melhorar o País que deva assentar nos impostos a possibilidade de gerar riqueza para que a saude e a educação possam ser gratuitos e se possam assegurar os serviços mínimos. Uma defesa intrínseca dos trabalhadores. Já a direita sempre se regeu pelos princípios da liberdade onde cada um deve ser livre de melhorar a sua vida e quem trabalha mais e melhor deve ter o direito de ganhar mais do que quem nada faz. Assente na meritocracia e nos valores tradicionais da família defendendo um Estado menos interventivo, onde ajudar as empresas é o caminho mais sólido para garantir mais emprego e por isso condições melhores para quem trabalha. Requerendo menos impostos para que cada um possa fazer com o seu dinheiro as suas próprias opções dando a cana para pescar ao invés do peixe que se acabará por esgotar.

O problema é que hoje em dia a diferença estará sobretudo nas causas fraturantes e até essas já têm opiniões convergentes em ambos os lados da barricada. Mais do que isso, quem para lá vai dá maus exemplos. Já nem falo dos N casos pessoais que têm vindo a público, basta ver as dívidas que os partidos têm, partidos esses que chegam ao Governo e colocam as Finanças a cobrar de uma forma cega e em casa não cumprem com o que exigem. É por isso natural que os fenómenos populistas proliferem por esse Mundo fora. As pessoas estão fartas de teorias e de que lhes roubem direitos e querem alguém com pulso firme que lhes dê voz, que diga o que eles sempre quiseram de dizer, que não tenham medo de ser inconvenientes e que comprem guerras para defender os seus. É isso que as pessoas querem, alguém que fale por eles e que se esteja marimbando para o politicamente correto. Que assume posições, que não os roube todos os dias e que os deixem trabalhar. Que lhes mostrem bons exemplos como valer a pena ser honesto e trabalhador que se é recompensado por isso. Essa é a razão de tantos optarem por partidos e mensagens mais extremadas e populistas. É um género de “ pelo mais do mesmo já vimos que não vamos lá, deixa tentar algo diferente”. Está tudo tão farto desse mesmo que muitos já só querem mudar por mudar. As pessoas querem saber quem os defende e não quem se usa dos seus votos para encher o bandulho. Estes fenómenos vão crescer muito mais porque trazem com eles uma mensagem de esperança. E as pessoas precisam tanto dela...