Os coletes amarelos e o descontentamento social
Os acontecimentos sucedem-se em catadupa e um artigo de opinião não pode contemplar todos embora fosse esse o meu desejo. Tentarei comentar alguns na esperança de que os bons articulistas, deste espaço comentem os outros.
1 - Não poderia deixar de começar pela recente mas incontornável mediatização da organização “coletes amarelos” (CA). Surgiram na França devido ao descontentamento social mas as opiniões dividem-se, uns são a favor outros contra como em tudo o que nos rodeia. Por mim considero justas as suas reivindicações mas não aprovo métodos violentos como aconteceu em França. Justos se reivindicarem o bem comum tais como; descida de impostos, revisão sobre as profundas assimetrias salariais entre administradores, públicos ou privados, e outros trabalhadores cuja função tem a mesma dignidade e utilidade social. Justos se forem contra a discriminação entre trabalhadores da função publica e privados já que isso é injustificável. Justos se defenderem salários dignos que façam face a um custo de vida em crescendo e cada vez mais insuportável. Justos se reivindicarem castigos severos para políticos ou privados corruptos. Justos se pugnarem pela abolição das mordomias dos políticos. Justos se conseguirem que os governos da UE controlem o capitalismo selvagem, fonte de desestabilização social que está a levar o Mundo à bancarrota uma vez que a riqueza se concentra apenas em meia dúzia de “lobbies”. A UE, na qual o nosso país se inclui, já tem maturidade suficiente para não ver a política apenas sob a dicotomia ideológica, esquerda ou direita mas sim como um todo que deveria pugnar por uma sociedade mais justa. Os CA, para bem dos franceses, já conseguiram que Macron, aumentasse 100 euros ao ordenado mínimo e evitaram que aumentasse os impostos sobre os combustíveis, aplaudo, mas por outro lado, já há quem os aponte como mais uma organização terrorista ou agitadores profissionais, tipo mercenários, pelo modo como atuaram em França. Se entrarem pelo caminho da desestabilização social então perderão uma grande oportunidade de marcarem a diferença, sendo úteis à sociedade, mostrando à população como devem reivindicar no futuro. Por cá a convocação da “manif” dos CA não teve adesão porque os madeirenses, como sempre, acharam que “por aqui tá tudo bem” e ficaram-se pelos cafés a discutir se bola entrou na baliza. Democracia temos, só não sabemos o que havemos de fazer com ela.
2 - Estou em crer que Portugal nunca assistiu a uma onda de greves como a que agora se verifica, nem no tempo de P.Coelho e P.Portas que colocou os portugueses a pão e água apertando o cinto até ao ultimo furo. Não contesto o direito à greve mas as organizações sindicais tem que ter a forma e o engenho de não prejudicarem a população, no fundo somos nós quem mais sofremos uma vez que somos sempre massacrada com greves, nos transportes, na saúde, no ensino, na proteção civil ou na função pública. Os protestos que os governos mais temem são as manifestações de rua pacíficas, ordeiras e com muita adesão que provocam um grande ruído social que não interessa ao poder político.
3 - As eleições regionais aproximam-se a passos largos e os partidos e políticos cá do burgo atropelam-se nas promessas e outros quejandos para agradar aos eleitores. O psd de M.Albuquerque não quer, de modo nenhum, perder as próximas eleições, para não dar glórias aos apoiantes de Jardim. Assim, sorrateiramente, Pedro Calado, sabendo do ponto fraco de Albuquerque, vai-se valendo para arranjar lugar aos velhos caciques, já fora de prazo, que mantiveram o querido líder, na esperança que Jardim ainda consiga arrastar alguns votos mas o que irá conseguir é que a ala “jardinista” e o “único importante” façam a folha a M.A. O desespero de Albuquerque é tal que abandona o seu grande projeto “os Renovados” para humilhar-se perante o seu rival convidando-o a fazer campanha para as 3 eleições de 2019. Porém esquece-se de um pequeno/grande pormenor, foi ainda no tempo do crónico líder que o psd-m perdeu, em 2013, as principais Câmaras da região o que significa que o psd-m rebentou mesmo por dentro já no tempo de Jardim e que este já não tem o peso político que lhe querem atribuir. Imagino o Dr Jardim no seu estilo peculiar, lá do alto do seu ego, a pensar “que grandes parolos!
4 - Custa-me entender o porquê do psd-m e demais oposição, cá na Madeira, já começarem a pedir a demissão de P. Cafôfo do cargo de presidente da CMF alegando que a data das eleições já foram marcadas. Não vejo razão para tanta pressa mas assim sendo as mesmas vozes devem pedir também a demissão do Presidente do G.R. uma vez que está nas mesmas circunstâncias.
Não fiquei com espaço para referir outras realidades que nos devem, desde já, começar a preocupar, tais como, o regresso ao consumismo desenfreado, da massificação das redes sociais, das“fake news” ou do ilusório crescimento da economia. Disso falaremos no próximo ano.
Um feliz e prospero ano de 2019.