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Black Friday e capitalismo

Capitalismo é poupança e investimento. é acumulação de capital, não é consumo de capital

Hoje é Black Friday, a data que se transformou na abertura oficial das compras de Natal e que se caracteriza pelos significativos descontos proporcionados pelo comércio aos seus potenciais consumidores.

Na boa senda de muitas outras tradições norte-americanas, esta também foi-se expandindo pelo mundo e tornou-se um costume inclusive aqui na Madeira, motivo pelo qual muitos estabelecimentos comerciais estão hoje a oferecer fortes descontos em muitos produtos.

Acontece que há gente “bem pensante” para quem este conceito é condenável, quer por algum desprezo hipócrita a tudo o que vem da “terra do Trump”, quer porque classificam-no como um dia em que alegadamente são acentuadas as manifestações mais exacerbadas do espírito capitalista, isto é, o consumismo desenfreado feito à base de um endividamento perigoso e desnecessário.

A primeira crítica é tão fraca e descabida que o facto de serem normalmente debitadas em produtos americanos como o Facebook ou Wattsup num iphone (provavelmente enquanto bebem uma Coca-cola ou mastigam um McDonalds), arruma logo a questão. Já a segunda consegue ser ainda pior, pois é falsa e distorce totalmente a realidade.

Embora muitas pessoas (governantes incluídos, para nosso infortúnio) acreditem que a força-motriz do capitalismo é o consumo, essa ideia está profundamente incorreta.

Que não hajam dúvidas de que o consumo é o propósito supremo de toda a atividade humana de caráter produtivo, em todas as sociedades, pois as pessoas produzem para poder consumir. Não há quem queira dedicar esforço e recursos para fabricar algo que não será nunca utilizado por ninguém.

Pelo contrário, a característica distintiva do capitalismo é o direcionar da poupança dos cidadãos para investimentos produtivos. Em outras palavras, transformar a poupança em capital.

Aqueles que pensam que o capitalismo sustenta-se no consumismo esquecem-se inclusive da própria raiz da palavra “capitalismo”, que vem de ... capital. Capitalismo é acumulação de capital. E capital é aquela fatia do nosso património que aumenta a nossa riqueza futura. Capital é toda a riqueza acumulada (por empresas ou por famílias) e que é utilizada com o objetivo de se receber receitas futuras (juros, lucros, rendas, outros).

O Capital é assim tudo aquilo que cria riqueza futura para nós próprios e para a restante sociedade.

Inevitavelmente, para acumular capital é necessário poupar. E para se poupar é necessário, da parte que o Estado deixa que se fique depois do saque fiscal, optar por restringir o consumo.

Novamente, o capitalismo não depende do consumo, mas sim da poupança. Uma sociedade que consumisse a totalidade do rendimento que produzisse não seria uma sociedade capitalista. E como consequência imediata, não haveria um único bem de capital existente: casas, fábricas, infraestruturas, meios de transporte, equipamentos industriais, escritórios e armazéns, laboratórios, e com isso não existiriam cientistas, engenheiros, operários, etc.. Não haveria nada! Tipo Cuba sem os investimentos americanos e os carros que estes lá deixaram aquando da revolução castradora, perdão, castrista.

Assim, é a poupança, e não o desejo de consumir tudo o que se pode, que nos permite direcionar o esforço para satisfazer não os nossos desejos mais imediatos, mas sim para as nossas necessidades futuras, pois é através da poupança que se criam condições para se produzir bens de capital que irão, por sua vez, fabricar os bens de consumo de que podemos necessitar no futuro. Desta forma, parece fácil perceber as consequências de seguir aqueles que querem que querem que “se perca a vergonha de ir atrás daqueles que ousam acumular” e lembremo-nos da vida das maiorias em Cuba, Venezuela, Argentina e Bolívia.

Quanto ao Black Friday e para termina de forma bem clara: temos de respeitar todos os que por sua livre e espontânea vontade, optem por sair de casa para comprar desenfreadamente todo o tipo de bens e serviços que queiram e consigam. Estão no seu perfeito direito de o fazer! Não se pode é vir dizer que esse comportamento representa o “expoente máximo e negativo de uma sociedade capitalista”, porque não é: capitalismo é poupança e investimento. Capitalismo é acumulação de capital, não é consumo de capital. Dizer outra coisa é errado, é um disparate e costuma ter intenções chavistas...