Análise

Autonomia deu à Costa

A Madeira clama pelo Primeiro-Ministro a toda a hora. Só lhe resta mudar-se para a ilha

António Costa garantiu que pela Madeira vai onde for preciso. E pelo que se lê, todos precisam de Costa. Permanentemente. De tal forma que ao Primeiro-Ministro só resta uma opção: mudar-se de vez para o Palácio de São Lourenço!

Costa é preciso e ponto final. Tendo culpa de tudo, tudo terá que resolver. Até porque na política da Madeira, mesmo que alguns mintam sem vergonha, ninguém erra, pede desculpa ou se demite. Era o que faltava. Pelo que se ouve desta gente, que tenta desesperadamente disfarçar a incompetência técnica com fantochadas parlamentares, a República está a desperdiçar talento e mérito à solta numa ilha que um dia se prontificou a exportar inteligência, desígnio confinado a uns contentores de banana ou de cerveja.

Costa é preciso no Funchal, onde quem gere o trânsito deve acordar depois das 10h. É que antes disso os semáforos desregulados contribuem para um caos medonho que faz da cidade uma espécie de IC19.

Costa é preciso na banca para negociar spreads e juros, assinar cheques e dar cobertura a promessas que nunca serão concretizadas simplesmente porque não há dinheiro para tanta obra e capricho.

Costa é preciso na mobilidade aérea pois a Região especializou-se em naufrágio regulamentar nesta matéria. Ora não sabe o que quer, como se nada tivesse a ver com o modelo em vigor, ora quer o que recusa gerir por achar que a continuidade territorial é coisa do Estado, dando-lhe assim, de mão beijada, o argumento e o trunfo.

Costa é preciso nos portos onde há um misto de lodo e de deriva.

Costa é preciso no aeroporto que continua sem plano de contingência, o mesmo que a secretária do Turismo primeiro assumiu como empreitada sua, para depois, sentindo o peso da carga, endossar a responsabilidade para a ANA.

Costa é preciso na Saúde. É dele que se espera as verbas para o novo hospital e se calhar a receita para que mesmo sem a nova infraestrutura os doentes possam ser atendidos de forma digna, como pessoas.

Costa é preciso no Governo pois nem sempre o Presidente e Vice-Presidente têm discurso coerente sobre as matérias que dependem da República.

Costa é preciso na oposição, muitas vezes órfã de liderança e de projecto.

Costa é preciso em todas as candidaturas. Numas como alvo preferencial. Noutras como muleta indispensável.

Costa é preciso por todo lado. E se assim é, convenhamos, importa perguntar: para que temos Autonomia? Para pedinchar em vez criar? Para amuar em vez de cooperar? Para darmos largas à ingratidão? Para ficarmos orgulhosamente sós, contra tudo e todos, porque alguns acham que assim não nos põem os pés em cima, postura que a constante mão estendida e a posição subalterna contrariam?

Para que queremos um governo próprio se o que temos cultiva a dependência de um poder central que tudo decide e pouco resolve? Para quê intermediários e carteiros se o podemos fazer de forma directa? Se é por causa das eleições e dos lugares que as mesmas distribuem sejam honestos e assumam que o contencioso não é feito de forma obsessiva a pensar na melhoria das condições de vida de todos os madeirenses, mas sempre de olhos postos nos interesses instalados.