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Situação “crítica” na saúde obriga luso-venezuelanos a tratamentos no exterior

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O presidente do Conselho Regional da América Central e do Sul, António Graça, classificou hoje de “crítica” a situação da Saúde na Venezuela, acrescentando que há portugueses a gastarem as suas poupanças para realizar tratamentos em Portugal.

“Não tenho números certos, mas quem sai da Venezuela para fazer tratamentos médicos em Portugal ou em outros países é quem tem ainda algumas posses. As pessoas não têm dinheiro nem para comer. Então, as pessoas que têm ainda algumas poupanças fora do país, provenientes de quando enviavam remessas de dinheiro para Portugal, estão agora a usufruir desses valores para fazerem tratamentos médicos”, afirmou o conselheiro em declarações à agência Lusa.

António Graça acrescentou ainda que o elevado preço das passagens aéreas é um dos maiores entraves à saída do país sul-americano.

“A compra de passagens aéreas é muito mais barata em Portugal do que na Venezuela. Só para se ter uma ideia, uma passagem da Venezuela (para Portugal) custa mais de mil dólares (887 euros). Então, as pessoas que saem para fazer tratamentos médicos são aquelas que têm uma poupança em Portugal. (...) A situação é crítica. As pessoas não estão a receber medicamentos, não há assistência médica, e a assistência social é menor ainda”, frisou.

O presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas da América Central e do Sul apelou assim a que o Governo português continue a ajudar a comunidade luso-venezuelana, através do envio de medicamentos para o país.

“O apelo que eu faço é para que as autoridades portuguesas continuem a dar assistência aos nossos conterrâneos na Venezuela, até porque não há muito mais que se possa fazer. É um Governo fechado, um Governo que não deixa entrar ajuda humanitária no país, conforme se viu na fronteira do Brasil com a Venezuela”, declarou António Graça, invocando ainda as relações entre os dois Estados.

“Como Portugal tem boas relações com a Venezuela, nós ainda temos conseguido manter alguma coisa com a nossa comunidade de lá, mas é complicado porque não podemos interferir na soberania de outro país”, disse à agência Lusa.

Um médico luso-venezuelano alertou, na quarta-feira, que a crise da saúde na Venezuela é mais grave do que se pensa e que os profissionais sentem-se de “mãos atadas” para prestar cuidados aos doentes.

“A crise da saúde no país é mais grave do que as pessoas pensam. Perdemos até a medicina preventiva, que é, na hora da verdade, o que mais vale”, disse à Lusa José Gomes Pereira, um dos médicos que atende a comunidade portuguesa local.

O neurocirurgião afirmou que na Venezuela há casos graves de desnutrição e que não há “medicamentos para crianças, tratamentos imunológicos”. As consequências vão ser visíveis “dentro de alguns meses e nos próximos anos”, sublinhou.

Na Venezuela residem cerca de 300 mil portugueses ou lusodescendentes.

Os mais recentes dados das Nações Unidas estimam que o número actual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões.

Só no ano passado, em média, cerca de 5.000 pessoas terão deixado diariamente a Venezuela para procurar protecção ou melhores condições de vida.