Madeira

Tubarão capturado no Porto Moniz é espécie “criticamente ameaçada”

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O tubarão que foi capturado por um pescador na tarde de quarta-feira a cerca de 500 metros de profundidade nos mares de Porto Moniz é um ‘Odontaspis ferox’, conhecido localmente por ‘Marracho de Fundo’, uma espécie que foi reportada pela primeira vez na Região em 1955 e que hoje é considerada rara e “criticamente ameaçada”.

“Estamos a falar de uma espécie cujo nome vulgar é ‘Tubarão da Areia’ mas que os pescadores locais de Porto Moniz conhecem como ‘Marracho de Fundo’” esclarece Manuel Biscoito, chefe de Divisão de Ciência da Câmara Municipal do Funchal e conservador do Museu de História Natural da Madeira onde há um exemplar montado e em exposição permanente, datado de 1955, e outro com apenas a pele.

Mafalda Freitas, bióloga marinha e directora da Estação de Biologia Marinha do Funchal, especialista em tubarões, considera este ‘Odontaspis ferox’ uma espécie rara nos mares da Madeira, daí que conste na Portaria da Pesca Lúdica que vigora para o arquipélago insular como “espécie criticamente ameaçada”, assinalou em declarações ao DIÁRIO.

“Foi uma aparição rara e além de se ser rara trata-se de um tubarão que só apareceu por mero acidente, morreu o que é uma pena”, manifesta a bióloga.

Os biólogos da Estação de Biologia Marinha estiveram esta quinta-feira no Porto Moniz a fazer medições ao animal, tirando fotografias e apontamentos sobre as características do ‘Tubarão da Areia. Trata-se de uma fêmea de idade jovem, com 2,60 metros de comprimento e 110 quilos.

Mafalda Freitas explicou que esta é uma espécie que pode atingir os 4,10 metros de comprimento máximo e que se distribuiu pelas águas temperadas e tropicais nesta área do Atlântico, entre o Golfo da Biscaia (França) e Marrocos, mas também Mar Mediterrâneo , na Costa Ocidental Americana, havendo também registos nos oceanos Índico e Pacífico. “É uma espécie circum-global, portanto que habita em todos os mares e tem uma distribuição cosmopolita”, explicou a bióloga.

A última actualização do inventário de peixes cartilagíneos nos mares do arquipélago da Madeira, onde se incluem os tubarões e as raias, efectuada pela equipa de biólogos constituídos por Manuel Biscoito e Mafalda Freitas, concluiu que nessa check-list existem 67 espécies diferentes na Região.

“É normal aparecerem tubarões, passam muitos deles em migrações”, refere Mafalda Freitas. Diz que a aparição é um fenómeno raro porque são peixes que vivem em profundidade como é o caso do que foi apanhado acidentalmente por um pescador no Porto Moniz a 500 metros a partir da linha de água. “É uma espécie mais comum nos Açores do que na Madeira”, confirma a bióloga.

A directora da Estação de Biologia Marinha do Funchal garante que não há mais tubarões a habitar os mares da Madeira, nem que os avistamentos são mais frequentes. “O que se está a passar é que hoje em dia há mais pessoas a ir para o mar do que antigamente e sobretudo há mais reportamentos de tubarões, porque hoje há mais redes sociais e qualquer pessoa tem uma câmara e pode partilhar para todos verem”, explicou. Na verdade, acrescentou, hoje, infelizmente, são vistas muitos menos espécies do que as que foram inventariadas em 1948.

Acrescentou que sempre que são capturados acidentalmente tubarões, os casos são reportados à estação de Biologia Marinha do Funchal pelas respectivas lotas para efeitos de investigação, “para que se conheça melhor a biodiversidade do mar da madeira”, apontou Mafalda Freitas.

Quanto ao ‘Tubarão da Areia’, pescado no Porto Moniz, a Estação de Biologia mantém interesse em ficar com algumas partes do animal para análise científica e investigação, nomeadamente o estômago, para conhecer a cadeia alimentar destes grandes predadores dos oceanos.