As árvores e o futuro

Num apelo que redigi em defesa das árvores, não abordei esta legislação nacional que, como medida preventiva, obriga à limpeza de terrenos, com prazos, num perímetro à volta de casas e das localidades. Bem intencionada por se estar a tentar fazer algo nesta vertente, mas grave que inclua, pasme-se, o abate de árvores confinadas nesses perímetros. Compreensível se se estivesse a falar de espécies de elevada combustibilidade e dispostas de forma densa. O certo é que, a se aplicar à letra, estaremos a sentenciar de morte um património arbóreo que levou décadas, nalguns casos séculos a se erguer. Óbvio que esta legislação deve envolver a gestão de combustíveis, com a remoção de material fino e seco, o tal que é mais susceptível de propagar incêndios. Felizmente, eivada destes equívocos, não terá aplicação na Madeira. Mas o mote para insistir em escrever sobre árvores deve-se às alterações climáticas e ao papel crucial que estes seres podem ter, na estratégia de adaptação do planeta para fazer face a uma das suas piores consequências: o aquecimento global. As alterações climáticas estão imparáveis e as consequências, de forma preocupante, estão aí. De recorde em recorde, os registos dos termómetros vão sinalizando alarmantes mudanças. As árvores, neste contexto, são, entre outras soluções, uma das apostas para mitigar os seus efeitos, como parte de uma estratégia de adaptação que é imperioso fazer, para que as nossas cidades não se tornem inabitáveis. Um dos nossos desafios é preservar o arvoredo e, sobretudo, adensá-lo, sem esquecer a necessária selecção de espécies a utilizar, adequando-a aos recursos hídricos disponíveis, cada vez mais escassos. E se este arvoredo também contribui para o sequestro do CO2, reduzindo a concentração de um dos gases mais prejudiciais no efeito de estufa que exacerba as alterações climáticas, por outro, é sob a sua influência que, por efeito do ensombramento, podemos beneficiar de microclimas que ele gera; as árvores reduzem a exposição directa à radiação solar e beneficiam quem circula, oferecendo conforto térmico mercê das condições bioclimáticas que, imediações de espaços verdes, criam, mediante correntes de frescura que deles irradiam por convecção. Há inclusive tecnologia que busca o fresco de zonas verdes, com exposições menos soalheiras, para canalizá-lo para o interior de habitações, como meio de arrefecimento mais amigo do ambiente. Por tudo isto, é estúpido ter uma ideia hostil das árvores quando, entre outras opções de adaptação às alterações climáticas, elas terão um papel decisivo, senão crucial na nossa sobrevivência. Noutra vertente, é inépcia construir no litoral, sem atender às alterações climáticas e a uma das suas consequências gravosas que é a subida do nível médio das águas do mar. É ignorância da mais básica. Tomam estas opções políticos ensandecidos e apoiam-nas acéfalos seguidores de clubites partidárias. É factual que se desenvolve, de forma crescente, tecnologia que recorre às energias renováveis. Não basta! Não esqueçam as árvores, os espaços verdes, a necessidade de os replicarmos, de os instalarmos, de os conduzirmos, como parte da nossa salvação, para que viver se torne aprazível, e para se ter um conforto térmico que dê à vida, um contínuo bem-estar.