Desporto

Tiago explicou a história do aeroporto que o fez sair do Marítimo a “tremer por todo o lado”

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Em entrevista ao Tribuna Expresso, Tiago, jogador que ficou conhecido por ter rescindo com o Marítimo a meio da temporada 1996/97, por justa causa, alegando duas razões, primeiro por não receber o salário a tempo e horas e, segundo, por ter medo em aterrar no aeroporto da Madeira, relatou o seu périplo pela Região e pelo clube insular, contando ao pormenor tudo o que se passou, mas vamos por partes.

Primeiro, quando questionado pela jornalista se foi árduo deixar tudo para trás e vir para a Madeira, Tiago disse logo que foi “muito difícil”, dado que é uma pessoa muito ligada “à família, aos amigos” e “à freguesia”.

“Jamais esquecerei esse momento, parecia que eu ia para o fim do mundo. Só para ter uma ideia, de casa dos meus pais à dos meus falecidos avós são uns 500 metros, fui a pé para me despedir deles, tudo a chorar, os meus tios também viviam lá ao lado, tudo agarrado a mim a chorar, eu venho pela rua fora, as pessoas já sabiam que eu ia para a Madeira e estavam todas à entrada da porta a despedir-se de mim (risos). Parecia que eu ia para o fim de mundo, nem sabia quando voltava”, atirou, recordando que “o primeiro mês não foi fácil”, isto porque “estava sempre agarrado ao telemóvel” a ligar para os pais”.

Já posteriormente, Alexandra Simões de Abreu, a jornalista que conduziu a entrevista, perguntou pela história por detrás do badalado caso no Marítimo. E Tiago alongou-se.

“Em Dezembro, Janeiro, a meio da segunda época, havia ordenados em atraso e eu tinha receio de aterrar na Madeira, porque na altura a pista era curta. Então rescindi com o clube por justa causa, alegando ordenados em atraso e também que tinha receio de aterrar na Madeira (risos). Foi o empresário, o Veiga que me aconselhou e comprou as passagens. Na véspera do meu regresso, dois amigos do continente que jogavam comigo na Madeira, ajudaram-me e também não foi fácil para eles. Eles vieram a minha casa ajudar-me a meter as roupas na mala, tudo à pressa porque eu tinha passagem para o dia seguinte e não podia comunicar a ninguém que ia sair, que ia rescindir por justa causa. No clube iriam saber depois, por fax. Esses meus amigos foram levar-me às seis da manhã ao aeroporto e vim embora. No dia a seguir, eles tiveram treino, eu não apareci. “O Tiago? O Tiago?”, todos a ligar-me, tive que desligar o telemóvel. Ligaram inclusive alguns sócios que tinham descoberto o meu número, ligou o presidente, foi uma confusão. Depois eram as televisões, era a imprensa toda, tive que esconder-me num apartamento porque andava tudo atrás de mim, e falava-se que eu ia para o Benfica, que ia para o FC Porto, para o Atlético de Madrid. E eu, miúdo, tremia por todo o lado”, relembrou o médio que acabou a carreira aos 40 anos, no Trofense.

“Escondeu-se no apartamento de quem e onde?”, indagou a jornalista, ao que Tiago respondeu que esteve “na Póvoa em casa de uma pessoa amiga” durante “duas semanas”, enquanto José Veiga tratava da sua vida. “No início algumas pessoas ligadas ao Marítimo desconfiaram até dos meus amigos do continente que jogavam lá e com os quais eu convivia mais. Chegaram a ir ao apartamento deles, à garagem, para ver se estava lá o meu carro, eu tinha na altura um Renault Clio. Andaram à volta deles, do Cabral, do Neves e do Bizarro, a massacrá-los, coitados, estavam a levar por tabela por serem meus amigos e conviverem comigo”, constatou.