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As casas e a luta pelas liberdades entre textos poéticos e verdades

Há sempre um deus fantástico nas casas, em que eu vivo e em voltados meus passos, eu sinto, os grandes anjos cujas asas, contém o vento dos espaços

Era de noite e levaram, quem nesta cama dormia, sua boca amordaçaram, com panos de seda fria, era de noite roubaram o que na casa havia, só os corpos negros ficaram dentro da casa vazia rosa branca, rosa fria na boca da madrugada, hei -de plantar-te um dia, sobre o meu peito queimada na madrugada

Era uma casa, muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. ninguém podia entrar nela, não tinha chão ninguém podia dormir na rede, porquê a casa não tinha parede, ninguém podia fazer pipi porque o penico não tinha ali, mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos número zero

A nossa casa, amor, a nossa casa, onde está ela, amor, que não a vejo? a minha fantasia em brasa. Constrói num instante, o meu desejo, onde está ela amor, o bem que neste mundo mais invejo ? o brando ninho aonde o nosso beijo será mais puro e doce que uma asa?

As casas nascem vivem e morrem, enquanto vivas distinguem-se umas das outras, distinguem-se pelo cheiro variam de sala para sala, as casas que eu fazia em pequeno, onde estão? Terei eu casa onde reter tudo o que serei somente esta estabilidade? As casas parecem estáveis, mas são tão frágeis as pobres casas mudas testemunhas da vida elas morrem com a morte das pessoas. As casas do lado de fora olham-nos pela janelas . Os ricos vivem nos palácios, mas a casa dos pobres conhecem tudo.

0 Armão tinha umas antenas gigantes e lá se ouviam as rádios clandestinas contra Salazar e seu regime, mas ele era conhecido por Rádio Moscovo não fala verdade. Em Bruxelas em 1972 encontrei-me com Zé Casanova trocamos informações e foi com alegria que pela primeira vez vejo um grande quadro com a foto de Ho CHI Minh. Em Amsterdão participei num encontro de exilados e desertores da guerra colonial e participei na jornada contra a compra do café de Angola. Pela primeira vez trouxe para Portugal a Voz da Revolução revista da Frelimo.

Em Paris encontro-me com o João e o Pombo ambos madeirenses e desertores da guerra colonial, vida dura para estes amigos. Fomos à livraria comprar tudo o que havia de clandestino contra a ditadura salazarista e fomos ver um filme sobre a guerra de guerrilhas na Guiné.

Mas entre as casas da resistência não posso esquecer a do cunhado Mário na Reboleira, onde muitas vezes reuni com camaradas do sector militar. A Casa do Rui onde vivi algum tempo ali nos lados da Ameixoeira - A casa da Zaida em Algés cujo pai era militante do PCP e trabalhava nos fermentos holandeses. A casa do compadre Luís e da Rosinha onde se tinham diversas divergências políticas, mas sempre de oposição ao regime. Aqui comia-se bem o bacalhau assado fininho, o peixe-espada e outras iguarias típicas da Madeira.

Em Vila franca de Xira o encontro com a malta progressista era uma casa do Padre, aqui reunimos com Zeca Afonso, José Jorge Letria, e de passagem apareceu Octávio Pato recém-libertado, da prisão, e, em breve mergulhou na clandestinidade. O Zeca cantou: a morte saiu à rua num dia assim, naquele lugar sem nome pra qualquer fim, uma gota rubra sobre a calçada cai e um rio de sangue dum peito aberto sai. Homenagem ao pintor Dias Coelho, assassinado pela PIDE

A liberdade não se mendiga conquista-se. A liberdade custa muito caro ou resignamos a viver sem ela ou decidirmos pagar o seu preço.

Vivemos momentos graves de atentados às liberdades do 25 de Abril, já sentimos no dia a dia que os fascistas do futuro não vão ter aquele estereotipo do Hitler, de Mussolini ou Salazar, estão já a ser homens falando de tudo o que a maioria do povo quer ouvir, para os enganar melhor. Eles andam á solta é preciso travar-lhes o caminho, denunciar os netos dos fascistas que enganam a juventude, temos de derrotar os vencidos da Revolução de Abril. Cuidado muito cuidado com o populismo neofascista que não hesita expulsar emigrantes e mandar o primeiro ministro para a cadeia. Cuidado com o voto extremista, este pode estar associado a emoções em estado bruto.