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A Bürgerfest, segundo André Ventura

Corria o dia 10 de setembro do ano da graça de 2025 e André Ventura escrevia, nas redes sociais, o seguinte:

“O Parlamento aprovou a ida do Presidente da República à Alemanha para ir a um festival de hambúrgueres”.

E no seu jeito peculiar, aduzia: “À conta dos nossos impostos”.

Circunstância esta que o levava, concomitantemente, a questionar:

“Acham isto normal? Será que os portugueses não se revoltam?”.

Com estes pressupostos, num outro âmbito, proclamava ainda:

“O Chega votou contra, como é evidente. Isto é uma bandalheira.”

Atropelando-se na conhecida vontade de acusar quem quer que seja, prosseguia: “Mas sabem porque é que isto passa, porque é que coisas destas passam? Porque vocês não sabem disto. Vocês não se revoltam com isto porque não sabem”.

Com tal arrazoado, não tardou que os useiros e vezeiros, seguidores do “grande chefe”, desatassem a “likar” e a “partilhar”, seguidos, ainda, pelos muitos replicadores acríticos que grassam pelas redes sociais e que criam um efeito multiplicador da asneira.

E o festim cresceu de tom, como sucede sempre nas ditas redes.

Onde, se um diz mata, os outros esfolam. Impiedosamente.

Mas eis senão quando alguém de bom senso, alertado, decide perceber melhor o que é a Bürgerfest. E chega (definitivamente sem maiúscula) à conclusão que Ventura e os seus apaniguados, enquanto especialistas do atirar a matar a tudo quanto mexe, tinham caído no ridículo, demonstrando, afinal, o que são e ao que vêm.

Porque, afinal, a Bürgerfest é uma festa que reconhece o papel fulcral dos cidadãos na sociedade alemã, na qual se exalta e homenageia o trabalho voluntário, aproveitando-se, ainda, para promover o envolvimento cívico das pessoas, realizando-se, o citado evento / acontecimento, anualmente, na residência oficial do Presidente da República da Alemanha.

Ou seja. O que para Ventura e os seus simpatizantes e seguidores é um festival de hambúrgueres, é, afinal, uma festa que exalta o envolvimento coletivo dos cidadãos alemães e que poderia, inclusive, constituir-se como (um excelente) exemplo para Portugal e para os Portugueses.

Dito isto, penso que este episódio, caricato, ridículo e que foi rapidamente apagado dos “locais do crime” (não sem que antes já todos os tivessem visto, ouvido e até gravado para prova futura), este episódio, dizia, pode servir para que as pessoas se interroguem sobre se não estão a dar demasiada importância a quem, confundindo hambúrgueres com cidadãos, voluntariado e altruísmo, não os estará a confundir em muitas outras circunstâncias, com meias-verdades e/ou mentiras como esta, que resultam de uma personalidade que, ansiosa, impulsiva e querendo destacar-se à força, exatamente como o fez neste caso, “quando não se sabe, inventa!”.