Vivemos nas escolhas que fazemos
Como é habitual nesta época do ano, estamos em plena silly season, com tudo a que temos direito. Período estival propício a banhos e sol, instituições e empresas em modo de férias, parlamentos encerrados e governos a meio gás. Nada de novo, portanto, não fosse preocupante a ideia que me atormenta de que esta silly season há muito tinha começado e ameaça continuar após o Verão, tanto lá fora como cá dentro.
Vivemos num mundo que tenta normalizar uma administração Trump nos Estados Unidos que age perante os seus aliados europeus como nunca o faz perante os seus (até agora) inimigos. Sabendo das fragilidades da Europa em matéria de defesa, com culpa própria que não podemos negar, utiliza táticas condenáveis para assegurar acordos comerciais desequilibrados e maus para os europeus, enquanto parece ter como grande objetivo a obtenção do prémio Nobel da Paz para o seu presidente. Aqui também, esta estratégia mafiosa tenta convencer-nos de que o agressor russo terá direito a territórios ucranianos como condição para garantir o fim da guerra, obrigando ainda a investimentos avultados dos europeus para evitar novas agressões de Putin. Aceitar tudo isto como normal, é uma escolha.
Do mesmo modo, olhar com distanciamento a situação dramática em Gaza, é também uma escolha. Ser capaz de assistir a um verdadeiro genocídio, onde se atacam hospitais, jornalistas e se matam crianças à fome ou a tiro à espera de comida, sem nada dizer, é algo que não consigo conceber. Observar ao mesmo tempo a propaganda do regime israelita negando, inclusive em televisões nacionais, todos estes factos, é uma escolha de quem prefere normalizar tudo o que de mais errado existe neste mundo.
Perante isto, falar de questões nacionais até pode parecer irrelevante, mas com toda a certeza não parecerá irrelevante para quem ouviu promessas de um admirável mundo novo, que resolveria problemas em meses, com novos planos e medidas tão evidentes e fáceis de executar em áreas que iam desde a saúde até à habitação. Não se vislumbra nada, pelo contrário, os problemas agravam-se, o país arde(u) e o Primeiro-ministro continuou no areal e em festa, a fazer lembrar tempos bem recentes aqui na Madeira e Porto Santo. Escusado será dizer que aceitar o atual estado de coisas é também uma escolha.
Esta semana, ficamos todos chocados com a bárbara agressão a uma mulher, à frente do filho de 9 anos, perpetrada pelo marido. Até quando iremos aceitar este tipo de violência, até quando iremos escolher, individual ou coletivamente, ignorar o que infelizmente acontece diariamente em tantas casas? Todo o mediatismo, da comunicação social às redes sociais, deixou-nos revoltados com o caso e com o agressor, mas todos teremos de fazer a escolha de denunciar, sempre, qualquer ato de violência.
Este é infelizmente o mundo em que vivemos, e para cada uma das situações que descrevi haverá um sem número de populistas a dizer que isto tem de acabar, que a culpa é dos mesmos de sempre, e que a solução é escolhê-los a eles. Pois bem, não me parece que a solução seja escolher quem promove e idolatra Donald Trump, quem aponta o dedo a pessoas em função da cor da pele ou gênero, quem finge apagar fogos no rescaldo do incêndio para colocar nas redes sociais, quem diminui ou retira direitos às mulheres ou quem critica um regime sendo na sua maioria dissidentes do partido que hoje nos governa. Acima de tudo, não julgo que a solução possa alguma vez estar em quem apenas critica e nunca apresenta uma única...solução!
O mundo em que vivemos depende das escolhas que fazemos!